Posso dizer que esta é uma obra realmente bem escrita.
Você já deve conhecer seu autor por outros títulos mais famosos
e reconhecidos, como o andar do bêbado e subliminar (este último
já resenhado aqui no blog). Leonard Mlodinow já desponta hoje como um influente
escritor de divulgação científica, e a qualidade de seus textos falam por si.
Dono de um estilo atraente e leve, e calejado por assuntos áridos como estatísticas
e subconsciente, Mlodinow decidiu agora falar um pouco da história. Da história
do conhecimento.
É certo imaginar aqui que se
trata de mais uma obra sobre a história da ciência. Não podemos dizer o
contrário. Mas é preciso reconhecer que ela vem com uma sutileza e abordagem
muito própria. É uma história do conhecimento humano, de como começamos a nos
interessar pelo mundo. Não tem foco nas realizações, nas grandes invenções, nos
grandes personagens. Aqui a escrita vai lhe levar de maneira mais sutil (mesmo
que abordando os três em algum momento) sobre como nós, como espécie, desenvolvemos
nosso desejo insaciável por aprender e conhecer.
O livro vai abordar sobre nossa
curiosidade, sobre como começamos a nos interessar pela razão lógica, e até
onde este nosso interesse nos levou, em termos de tecnologia e revolução
social. Mas para contar esta história, com certeza não vai faltar menções aos
gregos, Galileu, Copérnico, Newton, Darwin, entre outros. É justamente nesta
narrativa que vem a história da ciência, mas menos pelas conquistas, e mais pelo
processo que levou a estas conquistas. Tomando como exemplo, se as descobertas
astronômicas melhoraram sensivelmente depois do desenvolvimento dos
telescópios, o livro vai tratar das razões que nos levaram e produzir um aparelho
para enxergar melhor os astros. As causas das perguntas. E nesta abordagem, o
texto corre delicioso, sem cansar e com a graça de um autor que sabe escrever
ao público. E aí é possível que você venha perceber um detalhe: vai encontrar
muitas histórias que já leu ou ouviu até a exaustão, mas na ponta do lápis de
Mlodinow, ela se torna muito mais atraente. Seja por escolher descrever os
detalhes certos para manter a atenção do leitor, seja por pular informações
desnecessárias.
A obra termina no revolucionário Século
XX, com mudanças paradigmáticas da física e os primeiros passos para o futuro
aberto de possibilidades. Em uma era onde a informação se multiplica velozmente
e torna-se cada vez mais acessível, Mlodinow nos convida a algumas reflexões interessantes
sobre o que o futuro nos aguarda, com muito otimismo, para uma espécie que possui
uma sede insaciável pelo saber.
Publicado pela editora Zahar, o
livro segue o estilo de seus “irmãos”, com uma capa psicodélica com título
branco. Páginas amareladas com fonte extremamente agradável aos olhos, são
quase quatrocentas páginas que você nem vai sentir que estão passando. É um
deleite textual, acompanhado com algumas poucas ilustrações, se tornando um
prato cheio e apetitoso para os que gostam da história da ciência e do
conhecimento. Apesar de ter inevitáveis repetições com outras obras mais antigas e parecidas (vide por exemplo o Breve História da Ciência, resenhado aqui), a linguagem de Mlodinow vai deixar um gostinho diferente no final.
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