sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

As Origens da Virtude - um estudo biológico da solidariedade



Esta é uma obra cujo título descreve bem a intenção do livro inteiro. Um dos poucos volumes que já vendem de cara a proposta. Então se você quiser entender melhor como a biologia procura explicar a natureza de nossas tendências emocionais, eis um livro bom para isso.

Confesso que o li há muito tempo. Precisei rever algumas partes para poder me lembrar do todo. Lembro que fui para o texto com muita ansiedade, pois tinha visto uma referência a ele em outra obra (que não me recordo qual era) que o havia citado. E nesta época, eu estava louco, fascinado pelo estudo biológico do comportamento. Como a referência a ele era elogiosa, não tive dúvidas. Fui procura este modesto livro.

Percebi então que a obra estava esgotada. Nenhuma livraria tinha pra vender. Fui obrigado a procurar em sebos, e depois de alguns esforços, consegui identificar uma que tinha o livro em estoque. Recebi depois de algum tempo e não disfarcei minha impaciência. Fui ler.

A obra do zoólogo Matt Ridley se esforça bastante – mesmo que eu ache que não tenha lá tido tanto êxito – em explorar o assunto de maneira ampla. Aqui o autor vai descarregar uma boa dose de biologia, com direito a sociedade de animais (sim, muitos insetos vão constar no capítulo) e como estas interações funcionam. Não é uma leitura espetacular, mas é minimamente informativa. Depois, a coisa se amplia.

Sua abordagem se concentra essencialmente na questão da colaboração entre grupos e indivíduos, como sendo a base, a unidade mínima sobre a qual vai repousar nossa inata tendência em ajudar este ou aquele grupo ou indivíduo. É de praxe que um autor que trabalhe neste caminho venha a citar questões lógicas como o dilema do prisioneiro, o custo da traição e da confiança. E tem um capítulo só sobre isso. Adiante, vamos ter uma miscelânia de exemplos e situações que o autor vai explorar, desde relações complexas entre primatas até o comércio da sociedade moderna. Aliás o comércio é visto como uma estrutura nitidamente solidária, onde a compra e a venda demonstram confiança nos valores atribuídos às unidades de troca (dinheiros ou produtos) tanto por quem compra como por quem vende. E neste pé a obra inteira se desenvolve.

Em determinado momento, o conceito individual de solidariedade entre pessoas ou grupos vai se expandindo, e o autor percebe a necessidade de falar sobre governos e minorias, e suas relações entre si e entre seus componentes. A partir daqui não é mais possível ignorar algumas opiniões gerais sobre política, e mesmo de forma apartidária, ele finaliza a obra adentrando neste assunto.

Publicado pela Record, é um livro pequeno, com pouco mais de 300 páginas impressas em papel fosco, com fonte um pouco grosseira na minha opinião. Não é um livro impressionante, divaga muito em certos momentos, o que pode deixar o leitor menos atento com um sentimento de confusão. Apesar do assunto bastante interessante, não é uma obra que vai ficar na sua mente por muito tempo.

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