Este pode ser considerado um livro de divulgação científica?
Por que ele seria resenhado para este blog?
Se você se fez esta pergunta, eu não lhe recrimino nem tiro
sua razão. Pensei nisso também quando estava prestes a sentar no computador e
começar a escrever estas linhas. Será que um livro de história, digamos assim,
funciona como uma proposta de explicar questões de ciência?
Permita então que eu partilhe de meus pensamentos a este
respeito. Quando criei o blog pensei em oferecer ao público resenhas de livros
interessantes sobre ciência, daqueles enquadrados no conceito clássico de
divulgação científica. Se pararmos pra pensar, um livro de divulgação
científica deveria oferecer, de forma mais suave e digerível, conceitos e
ideias sobre ciência, que raramente seriam interessantes por outra forma. Mas
para conseguir alcançar este objetivo, muitos autores precisam desenvolver uma
escrita mais familiar, menos formal e mais humanizada. Uma leitura que escape
do mesmismo e chatice do texto acadêmico. Algo mais próximo do que a grande
maioria das pessoas entende e experimenta, como curiosidades, histórias engraçadas
e relatos familiares.
Neste sentido, eu acho que um livro que conta a história de
cientistas também cumpre o papel de divulgação científica, pois permite que enxerguemos
o homem por trás da descoberta. E nada melhor do que uma boa historia para nos
sentirmos mais próximos de um grande médico, físico ou matemático, seja lá qual
foi sua área, que também enfrentou os mesmos problemas que nós enfrentamos. E
por causa disso, eu considero adequado para este espaço livros que falem sobre
cientistas.
E o que eu tenho a dizer sobre este livro: simplesmente
impressionante.
O livro conta como a ascensão do nazismo afetou diretamente
as universidades e a ciência da Alemanha. Como a política racista atingiu todos
os níveis de produção intelectual e científica nas universidades e institutos
de pesquisa, afastando mais e mais brilhantes cientistas judeus, seus parentes
e simpatizantes, forçando um exílio desenfreado e condenando uma geração
inteira de jovens à obscuridade de uma pretensa ciência ariana. E com a saída
em massa de tantos cérebros privilegiados, havia muita gente interessada que
estes gênios trabalhassem em suas fileiras. A obra destaca dois países que
receberam de braços abertos a estes cientistas: Grã-Bretanha e Estados Unidos.
Você vai encontrar como estes cientistas foram recebidos em
outros países, algumas histórias de fugas espetaculares, outras de conformismo e
aceitação, e relatos tocantes de cientistas alemães que fizeram de tudo para
resistir ao obscurantismo científico imposto pelo Nazismo. Dentre os que
ficaram na Alemanha, seja por concordar com a política predatória nazista, seja
por um sentimento ímpar de resistência para preservar a ciência real na Alemanha,
a história de Max Planck é simplesmente espetacular. Não me canso de reler com
que fibra este homem resistiu ao máximo permanecer em um ambiente tão hostil à
ciência. Sinceramente, não sei porque ninguém ainda pensou em transformar sua
vida em um filme.
A saída em massa destes cientistas também acelerou a corrida
armamentista, e a obra não deixa de citar a criação da bomba atômica, as
polêmicas envolvidas, quando então a Alemanha nazista perde a guerra e é preciso
simplesmente reconstruir toda a Europa.
Publicado pela editora Record, é um livro de menos de 300 páginas
na qual cada uma delas vale muito a pena. Páginas brancas e fontes um pouco grosseiras
não dificultam a leitura. O livro é ilustrado com algumas fotos de cientistas e
políticos da época, muitos citados no próprio texto. É uma daquelas obras que
você não esquece, porque é simplesmente impossível esquecer deste período tão
obscuro da história humana, e com ele afetou cientistas de forma tão impiedosa,
mas que ao mesmo tempo despertou para muitos o lado humano da produção do
conhecimento científico.
Interese! Dankon!
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