Mais um volume do aclamado e
conhecido entomologista Edward O. Wilson. E devo dizer que sua experiência
científica em particular foi o pontapé inicial para escrever essa obra. Wilson
é um especialista em formigas. Um dos maiores e mais renomados no mundo,
diga-se de passagem. E uma das inúmeras e impressionantes características das
formigas é que eles são insetos sociais, em um nível de organização hierárquica
tão organizada que esta propriedade é a responsável pelo seu incrível sucesso
ao longo de milhares e milhares de anos de evolução. Ficamos até nos
perguntando como a criação desta sociedade tão eficiente e que deu tão certo parece
não ter frutificado em outras espécies. Apenas formigas, cupins e alguns poucos
organismos conseguiram criar um sistema social tão coeso quanto o desenvolvido por
elas. E é justamente isso que gerou a criação deste livro peculiar.
A obra de Wilson trata sobre o surgimento
das sociedades em insetos, especialmente nas formigas. E ninguém menos que o
próprio autor para tratar deste tema. Wilson também é conhecido por ter
popularizado o termo sociobiologia, que se refere a explicações do comportamento
social baseada em seleção natural, sexual, genética e outros aspectos da
biologia, em um livro publicado em 1975. Sua grande contribuição neste sentido
é que, colocando uma base comum para as causas do comportamento social, podemos
estender teorias e hipóteses sobre o desenvolvimento e manutenção dos
agrupamentos sociais para um grande número de espécies diferentes. E pode nos
incluir aqui. E justamente por isso o livro surgiu.
Seu texto é fácil e repleto de
informações interessantes, com boas descrições de fenômenos biológicos
complexos. Sua presente obra nos apresenta um apanhado das teorias existentes
sobre o surgimento das sociedades, e ela é repleta de paralelos com a espécie
humana. Um deleite tanto para amantes de biologia como antropologia e, por que
não, psicologia. O livro pode ser dividido em três grandes partes, a primeira explorando
a evolução da sociedade na espécie humana, desde seus antepassados primatas até
hoje. Um excelente texto sobre nossas origens. Talvez poucos tenham tido tanta
sorte em trabalhar este tema de forma tão atraente.
A segunda parte é uma abordagem
detalhada a respeito de como surgiram as primeiras sociedades nas espécies não
humanas. É um verdadeiro manjar, baseada em conhecimentos multidisciplinares.
Você vai ver genética, evolução, seleção natural, fisiologia e ecologia em uma
verdadeira aula sobre como enxergar o todo a partir de suas partes. E aqui
também se inclui uma grande polêmica: Wilson lança algumas críticas ao tão
estabelecido modelo da inequação de Hamilton, ou seleção de parentesco, que foi
formulada para tentar explicar comportamentos altruístas diante do aparente
paradoxo de que a seleção natural age sobre o indivíduo. O próprio Wilson publicou
um artigo, anos atrás, com uma explicação alternativa que escanteava a seleção
de parentesco de Hamilton, e recebeu pesadas críticas, incluindo uma imensa
carta-resposta capitaneada por Richard Dawkins, assinada por dezenas de outros
cientistas. Apesar de não se remeter a esse imbróglio, Wilson deixa claro seu
pensamento a respeito da nova teoria.
A terceira parte tenta casar as
duas anteriores. Explicar como surgiu a evolução da sociedade na espécie humana
baseada nas informações existentes sobre o tema baseado em estudos e experimentos
feitos com outras espécies. É aqui que vemos um Wilson mais humano e mais
ousado. Até então ele se mantém contido no que os dados apresentam sobre homens
e sobre animais, respeitando as limitações existentes pela falta de dados. Mas
agora ele dedilha no assunto como poucos, e cria um texto tão atraente quanto
convincente de seu ponto de vista. E eu não me recuso a admitir que sua visão pode
ser confortavelmente aceitável. Um deleite para quem pretende enxergar as bases
biológicas de nosso comportamento.
Publicado pela Companhia das
Letras, é um texto de tamanho médio, com boa tipografia e folhas foscas. Muito
confortável de ler e carregar. Para um assunto tão interessante, as quase
trezentas e cinquenta páginas quase não se fazem sentir. É um livro para
curiosos sobre a sociedade humana, o comportamento humano, e a evolução do comportamento
social. A ponta da caneta de Wilson foi generosa para o leitor mediano, sem
recorrer a excessos de jargões científicos, e mesmo assim mantendo as rédeas da
boa prudência científica.
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