De tempos em tempos, eu faço umas incursões online procurando por livros de divulgação científica. Estou numa destas fases agora, e com alguma surpresa me deparo com volumes altamente interessantes... e terrivelmente caros! Livros de divulgação científica deveriam ter custos tão assustadores assim?
Na minha busca, encontrei excelentes obras que pretendo adquirir, escritas por divulgadores científicos nacionais. Os livros Ciência no Cotidiano, de Natália Pasternak e Carlos Orsi, e o Darwin sem Frescura, do Pirula e do Reinaldo Lopes, estão entre os poucos que possuem um preço altamente convidativo. Nenhum deles custa mais do que trinta e cinco reais.
Achou caro? Sim, se você comparar com outras obras bem mais em conta, romances ou até mesmo alguns clássicos universais que são publicados em edições menos elaboradas, ou são textos pra lá de batidos. Com contos de romance juvenis ou obras bem menos conhecidas. Quando grandes livrarias ou sites anunciam descontos praticamente imperdíveis em livros, com certeza você não vai encontrar sobre ciência. Eles quase nunca ficam em promoção. E quando ficam, é quase ridículo de acreditar que alguém ousa chamar de desconto tirar cinco reais do preço de uma obra dessas.
Enfim, na minha busca por títulos atraentes, eu me deparo com valores beirando o absurdo. Um dos últimos que adquiri era sobre os aspectos biológicos da violência nas pessoas. Um tema profundamente atraente e que me chamou a atenção logo de cara. Repleto de dados, a obra promete destrinchar sobre como a biologia evolutiva moldou o perfil humano de maneira a criar em nós um instinto agressivo e violento, que até hoje se pretende dominar com tentativas notavelmente fracassadas. Animado, cai pra trás quando vi o valor da obra: mais de cem reais!
Antes de mais nada, preciso esclarecer que não estou menosprezando o autor. Fazer um livro não é nada fácil, toma muito tempo, energia e requer muito estudo. Colher, selecionar, avaliar, descrever e simplificar centenas de dados em páginas para não especialistas é um trabalho digno de Hércules! Livros técnicos são um exemplo do preço e do custo da pesquisa. Não é raro encontrar obras de certas especialidades por mais de dois mil reais. Mas livros técnicos não são para todo mundo. Livros de ciência para leigos deveriam ser.
Se for para como a obra chegou nesse preço, podemos incluir aí direitos autorais, qualidade da produção do livro (sim, isso é muito importante. Livros pessimamente impressos são horríveis), custos de tradução e revisão (se ele for de um autor estrangeiro), e especialmente a tiragem planejada com base na probabilidade de quanto retorno as vendas vão trazer. mas não deixa de ser assustador, e tenho dificuldade de imaginar quantas pessoas desembolsariam este valor por um despretensioso interesse de ler.
Os valores normais, digamos assim, de livros de divulgação científica variam entre trinta e sessenta reais. E aqui incluo todas as áreas, desde matemática até história. Para a média geral, eu acho que os preços são altos. E não culpo editoras e livrarias por causa disso. Nós não temos nem costume, nem hábito de ler. Livros que não saem não vendem. E quanto menor a tiragem, maior é o custo, uma vez que é preciso lucrar para produzir. E em particular dentro de um cenário social onde a maioria das pessoas não tem a menor condição de se dar ao luxo de gastar esse dinheiro comprando coisas pra ler. Dificilmente um assalariado vai poder comprar uma obra de divulgação científica, nem se ele for numa sebo. E leitura como um todo é um fenômeno muito mal disseminado e mal visto no Brasil. Recordo de uma história engraçada sobre isso. Uma amiga estava no seu trabalho, aproveitando o horário logo após o almoço para continuar sua leitura. Uma das pessoas que trabalhava com ela se aproximou e puxou conversa, explicando: "puxa, vi você sozinha aqui, sem fazer nada, e vim lhe fazer companhia".
O ato de ler só parece coisa chique quando você está na praia, tomando banho de sol (vi essa cena várias vezes nas férias e em filmes na televisão). Ler fora desse contexto para muitos realmente parece um "sem fazer nada" de dar pena. Duvido muito que a abordagem tenha sido a mesma se ela estivesse apenas teclando no celular. E isso aponta para uma outra peculiaridade do problema. Quando eu me refiro a ler, eu estou me limitando ao conceito de ler livros. Porque nós lemos constantemente estamos lendo nas redes sociais. Se parar para pensar, passamos boa parte do dia lendo, sejam notícias, postagens diversas, comentários, memes. Nos acostumamos a consumir informações rápidas, curtas, que exijam pouco tempo e sejam fáceis de processar. O exercício de uma leitura mais continuada e profunda é que parece ser pedir demais. E é justamente esse tipo de leitura que é mais notável, mais meditada e digerida, que nos transforma e nos faz ficar mais críticos.
Livros em geral, e em particular de divulgação científica, deveriam ter um incentivo adicional para produção e consumo. E nós, seus leitores constantes, podemos fazer nossa parte, comprando sempre que possível as obras e valorizando assim os escritores, ou pelo menos fazendo propaganda das mesmas, divulgando nas redes que você está lendo. Isso sim pode inspirar outros a ler. Pelo menos aqueles que puderem comprar livros. Outra coisa que pode ser promissora é recorrer a audiobooks. Curiosamente, parece mais confortável estar fazendo alguma coisa enquanto se "ouve" um livro, o que dá a impressão de que você está otimizando seu tempo. Até hoje não sei qual a taxa de absorção de informações por audiobooks, mas não custa experimentar.
O papel dos livros de divulgação científica é aproximar as pessoas da ciência, usando um linguajar acessível e atraente, facilitando o entendimento de assuntos rotineiramente mais complexos. A maior parte destes apenas informam. A minoria brilhante tem o incrível poder de mudar mentes e estimular o gosto pela ciência. Mas se os livros não puderem alcançar as pessoas, pra quê servem então?
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