quarta-feira, 31 de julho de 2019

Superstição, crença na era da ciência

Eu me deparei com esse livro numa pesquisa na internet. Estava esgotado nas lojas que procurei, e somente o encontrei na Estante Virtual. Decidi comprar.

Ele não demorou para chegar, e foi direto para a fila. Eu tenho uma pilha de livros na minha cabeceira, e alguns espalhados em pontos estratégicos de minha casa, e onde eu me sinto mais à vontade para sentar, tem sempre algum volume para ir adiantando a leitura. E ele ficou em um destes pontos.

Confesso que meu interesse pelo título do livro foi fundamental. Eu, como biólogo, aprendi a enxergar muitos fenômenos naturais com o olhar de quem enxerga biologia em tudo. Então o comportamento humano, pelo qual tenho um peculiar fascínio, me parece ser fruto de processos evolutivos. Não tem como escapar da biologia.

O livro me vendia esta ideia. Eu tive a impressão que o autor iria se concentrar nos mecanismos psicológicos (e biológicos basais que o causam) que levam as pessoas a acreditarem em superstições, e como isso evolui ou é sistematizado e organizado na forma das crenças pessoais. Imaginava uma "pegada" bem Steven Pinker, e isso me encorajou no volume.

Não demorou muito para que eu me desapontasse. O livro não é ruim. Ele é atraente em especial porque é cheio de casos e fatos históricos, muitos deles experimentados pelo próprio autor. Curioso como ele é chamado para opinar sobre assuntos científicos em debates contra céticos, e sua peculiar amizade com padres católicos. Mas não encontrei as causas do pensamento supersticioso que eu procurava, nem uma base biológica para a crença.

O livro cai em cima de muitos acontecimentos que para muitos é relativamente pouco conhecido, e para outros já é bem batido. Terapias alternativas, homeopatia, experiências de quase morte. Uma visão cética e crítica diante disso. Digno de nota, entretanto, é seu reconhecimento a respeito da acupuntura. Ele mesmo admite que enxergava esse procedimento como sendo análogo (em termos de inutilidade) com a homeopatia, mas que depois de averiguar os dados, não podia compará-los. Ponto positivo do autor que reconhece ter tido uma visão preconcebida que mostrou-se errada, pelo menos até certo nível.

O autor faz questão de realçar as burocracias e política que norteiam a proibição, liberação, debates e recomendações de processos terapêuticos controversos. Ele mostra bem que há toda uma maquinaria por trás de muitos procedimentos dúbios e polêmicos. O leitor mais atento vai perceber isso com certa facilidade.

A leitura não é difícil. Também não flui com toda essa facilidade. Há muito mais histórias do que explicações, e isso pode ser bom para quem gosta de conhecer fatos novos. O livro inclusive é dividido de acordo com eles. Em muitos aspectos, pode ser um livro que vai dar mais do mesmo para quem já tem vivência numa leitura continuada de assuntos científicos e céticos.

Resenhar livros de popularização da ciência e divulgação científica

Enfim.
Meu interesse por livros vem de muito tempo. Apesar de ter começado a ler muito tarde (lembro como se fosse hoje o momento exato que "aprendi a ler", quando as palavras soltas começaram a fazer sentido, quando ordenadas do modo correto). Desde então nunca mais parei.

Comecei com gibis, da Marvel e da Turma da Mônica (Stan Lee e Maurício de Sousa, obrigado!). Daí fui evoluindo para livros mais juvenis e... enciclopédias! É estranho, eu sei. Mas eu ficava fascinado com as ilustrações que coloriam as páginas dos grossos volumes das Barsa e Conhecer. Não tinha nenhuma delas. Eu precisava ir na escola para folhear. E fazia isso com prazer.

Entrei na faculdade, e me deparei com mais leituras. Muita coisa obrigatória para as disciplinas do curso, mas nunca deixava de passar os olhos em textos que julgava interessantes. Foi aí que conheci pela primeira vez livros de popularização de ciência.

Mas o divisor de águas veio na pós-graduação. Todo mundo já recebeu conselhos a sua vida inteira, e eu não era diferente. Mas no meu mestrado, eu recebi um que realmente me mudou. Aqueles conselhos que, se fossem dados há dez anos atrás, você teria aproveitado mais. Pois bem. Esse conselho foi dado em sala de aula. O professor Reginaldo Barros, do Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, começa sua aula assim: "Leiam! Leiam compulsivamente".

Eu já gostava de ler, mas aquelas palavras me atingiram em cheio. Eu já lia, mas não "compulsivamente". Depois eu entendi.Quanto mais você lê, mais fácil fica a leitura, mais coisas você retém e sua habilidade argumentativa aumenta exponencialmente. Notei também que, quanto mais eu lia, menos besteiras eu falava. Era isso que ele queria dizer. Ler transforma e instrui. Monteiro Lobato já falava que uma nação é composta por homens e livros. Se era para ler, vamos lá.

Me deparei com obras excelentes, agradáveis, criativas, e também com besteiras gigantescas, discursos vazios (ler também lhe acostuma a entender o ponto de vista de outras pessoas, discordar, mas permanecer paciente e continuar lendo), e escritores excelentes, com uma escrita fácil e suave, agradável à leitura, com a profundidade de uma poça de água. Gente muito boa escrevendo sobre coisas terríveis, e discursos altamente bem estruturados e sedutores, vendendo ideias perigosas e erradas. À medida que lia, ficava mais fácil separar joio e trigo.

Agora, depois de algumas dezenas de obras, encontrei meu nicho. A leitura de livros de popularização científica, ou livros que ajudem a entender como o mundo funciona. Sem nenhum chavão de auto-ajuda, ou coisa parecida. Livros escritos por cientistas ou jornalistas acostumados com assuntos científicos. Eis meu terreno. Eis meu campo de batalha. Agora que li muitos, e novos tem aparecido (vivemos num momento particularmente delicado, onde muita gente acha que opiniões pessoais e dados científicos tem o mesmo valor), fico cada vez mais inclinado a procurar novas literaturas sobre o tema.

Eu pesquiso e folheio livros antes de efetivar uma compra (exceto presentes). Mas mesmo assim, eu tenho dificuldade de encontra uma resenha crítica sobre a obra, que não seja claramente vantajosa ao autor. Muitos nomes famosos emprestados para valorizar, às vezes com uma pequena frase, uma obrar recém publicada. Eu agora quero fornecer essas resenhas. Se eu achei difícil encontrar, pelo menos que eu possa ajudar os outros a se decidirem.

Vamos ver se dá certo.