Rapaz, eu sempre gosto quando as editoras procuram ser originais para alavancar alguns títulos. E devo dizer que este é diferente de todos que eu já vi (e aqui não me refiro ao seu conteúdo). Fiquei na dúvida se começasse a escrever sobre o que torna esse livro único, ou sobre o seu conteúdo. A verdade é que a forma como o livro foi publicado me deixou bastante desconsertado, e cheguei e pensar negativamente sobre a obra por causa disso. Não sei quem teve a ideia, mas uma coisa posso dizer: é diferente de tudo que já vi, e as sensações que pode despertar são de extrema criatividade ou o cúmulo do bizarro. E eu confesso que a estratégia adotada parece mais ter sido um tiro que saiu pela culatra.
Bem, para acabar com o suspense, decidi
começar pela forma como esse livro foi publicado. Não sei se foi apenas uma
particularidade das editoras brasileiras, ou original também é assim. Vejam a
foto abaixo:
Eu achei, a princípio, que o livro
tinha sido mal editado e que eu tinha pego ao acaso algum exemplar com defeito.
Fui nos outros dois exemplares disponíveis e todos eram iguais. Exatamente iguais.
Folheei a obra e a partir de metade dela, todas as folhas estavam de cabeça
para baixo! Isso mesmo, de cabeça para baixo! Voltei aos outros exemplares e
todos eram assim. Fiquei bastante confuso. Fui no índice e no cabeçalho, e
percebi o que tinha acontecido: o livro é dividido em duas grandes partes. Só
que cada parte está de um lado. Você termina a primeira parte, vira o livro e
começa a ler, como se estivesse no começo do livro de novo. Ao invés de criar
um capítulo sequencial, eles quiseram fazer você ter a sensação de que começou
um livro novo. Para você ter uma ideia, eu fiz esse vídeo folheando o livro:
Eu juro que minha primeira reação
foi de que estavam vendendo um livro duplicado. Não tinha notado que eram duas metades
diferentes. Achei que fosse uma estratégia para aumentar a grossura de uma obra
muito reduzida. Se eles quiseram fazer isso para “lacrar”, pra mim não
impressionou. Comprei o livro porque tinha interesse no assunto, e fazia tempo que
não publicavam algo neste sentido. Queria ver o que se tinha de novo a
respeito.
Bem, a obra não impressiona. Ela
simplesmente dá o estado da arte sobre a origem da vida, seguindo corretamente
a cartilha. Algumas informações espaçadas aqui e ali são mais interessantes. O
estilo de escrever do autor discorre bem, mas nada impressionante. Na primeira
parte a eterna indagação sobre o que é a vida, como se originou, uma boa dose
de aula básica de genética molecular, para nortear o leitor sobre o assunto, e
o princípio de como tudo deve ter surgido. Se sua genética de ensino médio não
foi satisfatória, vai ter um bom material para relembrar aqui neste livro. Finda
a primeira parte, vamos para a segunda.
Se falamos no começo sobre
genética, vamos finalizar com as implicações políticas, éticas e morais da mesma.
E aí vamos ter uma discussão que segue o mesmo ritmo da primeira parte, sobre
clonagem, biotecnologia, dilemas morais. Saliento aqui que este livro também
aborda a polêmica criação da primeira célula funcional totalmente sintética,
produzida pelo biólogo e empresário Craig Venter, em 2010.
Publicado pela Zahar, o livro é
fino, somando ao todo pouco mais de duzentas páginas (em ambos os lados). Fones
confortáveis e espaçamento adequado para leitura casual e despretensiosa. Quem
não sabe nada do assunto, vai encontrar um livrinho sintético sobre genética e
suas implicações com escrita fácil. Para o público mais exigente, ele apenas tem
mais do mesmo. O leitor mais interessado não deve encontrar muita coisa além do
café com leite, e com certeza talvez nem se lembre que o leu em algum momento.
Mas para quem está começando agora, com certeza é uma opção bem razoável de um
texto simples sobre genética.