Uma obra como poucas. Um estilo fluido e agradável de
escrita, repleta de informações pontuais e descrições empolgantes, seja de
eventos, seja de animais, seja de fenômenos. Essa é uma característica de
Richard Dawkins, o biólogo que se notabilizou pelo seu famoso volume publicado
na década de setenta, O Gene Egoísta.
Talvez seja um dos mais populares divulgadores científicos dos tempos recentes.
Dono de uma oratória elegante, que ora se deixa levar pelo seu natural
entusiasmo por ciência, ora é alimentada por seu ácido e mordaz ativismo ateísta,
Dawkins merece seu reconhecimento por demonstrar um talento incomum em escrever
para o público, especialmente quando se trata de biologia e evolução.
Agraciado com uma retórica e discurso muito agradáveis, as folhas
literalmente voam quando você começa a leitura. Quando menos esperar, você já
está terminando o livro de quatrocentas páginas que mais parecia uma
revistinha. O processo evolutivo, compreendido com muita profundidade, é seu
terreno mais confortável e predileto. Sua defesa apaixonada e admiração pela
ciência é indisfarçável e recheia páginas e mais páginas do volume. Mas como um
bom maestro, ele conduz os fatos e argumentações em um ritmo seja acelerado, seja mais contemplativo, regendo uma orquestra onde ele conhece cada um dos
instrumentos e seus respectivos músicos.
Como o próprio título diz, sua obra pretende apresentar as
evidências da evolução. Mesclando curiosidades, uma abundante narrativa
histórica e casos escolhidos à dedo, Dawkins conduz o leitor no melhor que a
ciência já descobriu e conseguiu descortinar sobre os mecanismos da evolução. Impressionante
como ele ainda consegue surpreender, já tendo explorado o tema em pelo menos
uma dezena de obras de divulgação científica sobre evolução dos quais é autor.
A caneta de Dawkins parece ser simplesmente incansável. E isso é um enorme
benefício para os interessados no autor e na sua obra.
O livro mergulha em diferentes exemplos da evolução e da
construção dos seres. Explicando desde o processo de datação do carbono, até os
detalhes por trás da movimentação e multiplicação das células durante o
crescimento embrionário, seguindo ordens específicas dadas pela expressão
sequenciada de genes (e aqui tratamos de uma descrição simplesmente fantástica
de um processo bastante complexo, que abre-se aos olhos do leitor), a obra não
deixa a desejar. E Dawkins é muito bem afortunado com seus exemplos. Seu
insight de comparar os surgimentos das dobras das camadas celulares nos
embriões a um processo similar à arte oriental de origami é uma tacada de
mestre. Pequenas ilustrações, seja de gráficos muito simples a desenhos de
organismos, dão um toque todo especial à obra.
Se já fosse só por isso, o livro já estaria pronto. Mas como
um ativista, Dawkins não poderia encerrar apenas nas evidências. Ele precisa
acrescentar também alguma discussão e contra-argumentações sobre a teoria não
científica do design inteligente. E munido deste ímpeto, o autor discorre
fartamente sobre dezenas de características biológicas que, caso tivessem sido
planejadas por uma mente inteligente, certamente demonstraria uma falta de planejamento
evidente. Um dos exemplos marcantes do livro que nunca saiu de minha mente foi
do nervo vago da girafa. Vale a pena cada um dos casos.
Publicado pela Companhia das Lestras, a obra ainda é
enriquecida com encartes coloridos belíssimos, com fotos e figuras de primeira
qualidade. Papel amarelado com tipografia elegante, que auxilia muito para leitura.
A obra tem dimensões discretamente maiores que o comum, mas provavelmente ficou
assim para compensar o que poderia ter sido um livro mais encorpado.