sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O Mundo da Escrita - como a literatura transformou a civilização

 

Quando me deparei com este título, achei impossível não comprar o livro. E seu subtítulo foi magicamente inspirador, visto que é um terreno bem pouco explorado, e que merecia uma obra à altura para contar a trajetória da mais peculiar e revolucionária característica humana. E como vocês podem ver, eu não hesitei um só momento.

Antes de começar a folhear a obra, pensei comigo mesmo como se poderia escrever uma história da escrita. Me lembrei de minhas aulas na escola, a respeito da escrita cuneiforme e dos primeiros textos publicados. Imaginava que voltaria a pincelar esse assunto na forma de uma leitura meio nostálgica nesta obra, o que também me deixou receoso de estar encarando somente mais um livro de história. Nunca fiquei tão feliz por estar errado.

A maneira pela qual Martin Puchner decidiu conduzir seu texto foi bem peculiar, e eu sou grato por isso. Para mostrar os efeitos da escrita e seu impacto sobre pessoas e civilizações, ele optou por mostrar como a escrita influenciou os homens que influenciaram a história. E ele começa a jornada com o todo poderoso Alexandre, o Grande. Este homem notável que desenhou a história ocidental tinha sido profundamente influenciado pelo texto da Ilíada, e utilizava a história homérica como uma grande inspiração e um repositório de valores. É quase magnético percorrer os trechos do livro que destacam essa história fascinante. E isso é só um exemplo, apenas.

Posso destacar que a primeira metade do livro é fascinante. A importância do texto escrito é destacada para quase todas as civilizações, ora como motor de reformas religiosas, como a Bíblia Sagrada, ora como repositório sagrado de leis. A forma como o papiro era considerado tão valioso quanto seu conteúdo dava uma magia ainda maior para textos sagrados. E ele não para no Ocidente. A maneira pela qual ele aborda as diferenças de valores dadas para ensinamentos passados oralmente daqueles que seriam "maculados" pela escrita é muito agradável de ler.

Um destaque muito relevante da obra é dada para a revolução provocada pela imprensa. A invenção de Gutemberg transformou o mundo de uma maneira que ainda pouco compreendemos. A popularização do texto escrito com produção massificada de textos e redução de custos levou ao fim um dos maiores privilégios só compartilhados pela realeza e autoridades religiosas: a alfabetização. Confesso que fiquei boquiaberto por nunca antes ter pensado como a privação coletiva do direito à leitura foi tão perversamente explorada pelos poderosos, durante centenas de anos.

Agora, chegamos a parte onde o livro perde seu fôlego. Depois de perambular pela escrita maia, as aventuras de Dom Quixote e da importância do Manifesto Comunista, caímos em uma jornada pessoal do autor. O caráter do livro se desvia um pouco de sua abordagem histórica e se transforma simplesmente em um relato de uma jornada pessoal de Puchner, no esforço de identificar as paisagens e o autor de uma certa obra. Confesso que essa mudança abrupta me frustrou um pouco. Talvez porque eu não seja um profundo conhecedor de literatura, mas considerando-se que é uma obra que a princípio deveria ser entendida pela maioria das pessoas, nessa parte ele deixou a desejar. Mesmo quando ele parece retomar sua escrita empolgante com sua experiência encarando o fenômeno Harry Potter, não se tem muito mais pique. O livro termina bem menos empolgante do que seu começo promissor.

Publicado pela Companhia das Letras, o volume de pouco mais de 400 páginas flui muito bem na sua maior parte, mas exige esforço na sua segunda metade. Mas não posso deixar de reconhecer que o livro cumpriu seu papel ao dar novas perspectivas sobre o fabuloso fenômeno da escrita. Folhas amareladas e foscas são confortáveis para ler em qualquer ambiente. O livro tem um tamanho bom para levar em bolsa ou até mesmo nas mãos, e é convidativo para uma tarde tomando café numa varanda.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A Assustadora História da Maldade

 


Como disse Thomas Hobbes, o homem é o lobo do próprio homem. Essa frase resume muito bem a proposta peculiar do escrito de Oliver Thomson.

Primeiramente, você pode imaginar que vai encarar um volume repleto de descrições detalhadas e angustiantes sobre métodos de tortura, sofrimento, castigos e toda forma possível de infligir desconforto em seus mais diferentes níveis. Uma obra que seria o equivalente escrito a filmes como Jogos Mortais, que faria o mais sádico dos leitores entrar em êxtase ao correr as páginas descrevendo as mais abomináveis e criativas formas de fazer alguém sofrer. Se está esperando por isso, pode ter certeza de que não é o que você vai encontrar.

O autor optou em oferecer aos seus leitores um compêndio histórico sobre a maldade. Não espere por uma análise biológica ou psicológica sobre o que motivou os homens a cometerem crimes e procurarem requintes de maldade em suas ações, sejam individuais ou sejam grupais. Thomson nos presenteia com uma obra que encara a evolução da maldade ao longo do tempo, com uma visão bastante diversa sobre as motivações e inspirações que levaram às ações mais atrozes e condenáveis da história.

Ao permear por esse caminho, é preciso ter em mente que uma narrativa sobre a maldade não pode ficar separada de um perspectiva moral, variando no tempo e no espaço, bem como entre culturas. E Thomson sabe disso. É interessante notar que o que hoje é considerado uma forma de maldade, em outras épocas era tido como uma atitude de honra, ou mesmo respeitosa. E é revelador encarar as coisas sob essa ótica.

Vamos encontrar níveis surpreendentes de maldade e como ela foi habilmente utilizada para moldar os caminhos da história. As agressões no campo de batalha, o medo para exercer controle, o conflito para provocar divisões, a dor como forma de se libertar espiritualmente, ou punir por erros. Desde impérios, traições, jogos políticos, perseguições religiosas, o autor caminha pela história humana literalmente tocando na ferida em cada época. Evidentemente, não é possível escrever uma história de maldade sem detalhar algumas formas de tortura, e aqui o leitor mais sensível pode ficar com algum embrulho no estômago. Mas não se deixe levar por isso, pois as descrições não são viscerais e nem frequentes.

Um dos destaques da obra, e talvez sua maior vantagem, é que ao mesmo tempo que aborda a dor e sofrimento, o autor faz questão de apresentar as muletas morais que podem ter diminuído ou eliminado o conceito de sofrimento para o próprio carrasco. É verdade que houve muita gente que torturou, mutilou e matou pelo simples prazer em provocar dor, mas em outros casos a dor como punição ou forma de justiça podia ser moralmente tolerável para a época. E isso fica claro quando tratamos, no final da obra, sobre o holocausto nazista.

A escrita de Thomson não difere muito de outros autores que escrevem sobre história. Seu estilo praticamente descritivo tem tantos pontos fortes quanto fracos. Publicada pela Editora Prestígio, o livro de mais de 500 páginas possui margens muito, muito generosas, e é bastante ilustrado com figuras em preto e branco. Folhas brancas e densas o deixam um pouco mais pesado do que esperaríamos para um livro de tamanho médio. Espaçamentos e fontes maiores que o normal talvez tenham avolumado o livro além do que poderia ter sido. Não obstante, é uma obra que tem seu valor pelo ponto de vista histórico, e menos impressionante quanto seu título sugere.

 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Quatro meses....

 


Pois bem, depois de quatro longos meses, retornando ao blog.

Sim, fiquei fora por muito, muuuito tempo. Precisei me desintoxicar um pouco das redes sociais. Por mais que a pandemia tenha afetado meu rendimento, outros fatores decorrentes da mesma me atingiram profundamente. Mesmo meu ritmo de leitura foi afetado, por mais que eu tenha trabalhado em cima disso. E também assiti o documentário O Dilema das Redes, que me deu um baita desgosto da net, e terminei me auto impondo um distanciamento salutar da internet.

Mas enfim, depois da tormenta e com o advento da vacina, a esperança começa a pincelar sua presença nos nossos pobres corações. Acho que foi justamente isso que me motivou a voltar para o computador e dedilhar essas palavras. Me sinto mais animado, mais impulsionado a voltar a produzir. Revejo minha pilha de livros (continuei minhas leituras em um modo bem mais reduzido, quase stand by, e confesso que fiz escolhas pouco acertadas em pegar algumas obras pra ler, vai sair resenha em breve).

Voltando ao ritmo, já teremos novas resenhas nesta semana e semana que vem. Vamos continuar intercalando as minhas opiniões sobre os livros com alguns textos avulsos que eu estiver interessado em escrever, especialmente em relação à leitura. E não são poucas as ideias que tenho em mente. Se você gosta de meus textos e minha forma de escrever, não vai ficar desalentado.

O final do ano passado teve muitas mudanças, novidades pessoais, novas formas de ver o mundo, novas formas de encarar desafios. Foi uma jornada cheia de percalços e coisas pra pensar. E nisso quero dizer na minha vida pessoal e na profissional também. Agora para todas elas, eu sempre tive um apoio incondicional, quase que uma espécie de oráculo que eu ora e meia consultava: os livros. Estes não me deixaram em nenhum momento, e fico feliz em dizer que nas horas mais angustiantes e emocionalmente complicados, uma leitura sempre me fazia pensar com calma e relaxar. E dependendo do texto, podia até me dar boas respostas.

2021, seja bem vindo.