Você já parou para pensar em quantas maneiras diferentes
podemos minimizar ou ridicularizar informações científicas? Se ainda não fez
este exercício mental, eu recomendo dedicar um ou dois minutos para isso. Se
não sabe como começar, eu lhe sugiro pensar em algum dado científico, e ver
agora os melhores argumentos que você ouviria que poderiam colocar em dúvida a
importância destes dados. Conseguiu?
Para quem está mais acostumado com literatura de divulgação
científica, as respostas podem surgir como uma avalanche. Hoje é muito comum
você encontrar diversas maneiras de desvirtuar e minimizar o papel das
evidências obtidas pelo método científico. E o pior de tudo é que a maioria das
pessoas ainda não consegue reconhecer que está diante de tais deturpações. Eu
quero acreditar que este fato levou Michel de Pracontal a escrever sua obra.
A obra tem seu mérito porque separa seus capítulos
justamente nas dez lições do título. E a escrita do autor não é essencialmente
baseada nas explicações, mas fundamentalmente em contar as histórias que
ilustram, como exemplos, cada uma das imposturas a que ele se refere. E digo
que suas escolhas, de certa forma, foram bem acertadas.
Neste ponto, talvez o título não tenha sido o mais feliz
para a obra. Por um lado, dá a entender que as imposturas científicas são
provocadas por cientistas, por má fé ou negligência (e tem muito disso na obra,
com certeza) mas não se limita aos cientistas, mas também culpa o senso comum e
a mídia nesta desvirtuação, que são coisas independentes do cientista. Enfim,
eu não tenho, no momento que escrevo estas palavras, uma sugestão melhor de
título. Vamos continuar.
O autor vai apresentar uma série de passos que são usados
rotineiramente e que, por sua natureza, já afetam a objetividade que a ciência
oferece para analisar temas polêmicos. Portanto, ele nos mostra como certas
perguntas não fazem sentido serem feitas para a ciência, e que por isso mesmo é
utilizado como argumento contra a mesma. Depois, ele vai entrar nos temas de
teorias da conspiração, comunicação com espíritos, o impacto da mídia em
desvirtuar dados em sua necessidade por audiência, as ondas de reescrever a
história e ignorar evidências já estabelecidas. Para cada abordagem destas,
você vai ser apresentado a uma grande quantidade de dados na forma de histórias
bem contadas e interessantes. Aqui destacamos o mérito da escrita do autor, que
é contagiante na medida certa para boa parte de suas lições. Por mais de uma
vez eu reli a lição oito (SPOILER: "espíritos e demônios, invocarás")
e a narrativa continua atraente como sempre.
Publicada pela Editora Unesp, temos mais um bom exemplo de
um autor francês falando de ciência. E fico entristecido por ver que a obra não
teve seu reconhecimento devido, como um reflexo de nossas editoras em investir
tão pouco em obras de divulgação científica feitas por autores europeus. A
escrita é acima do razoável e não está cheia de reflexões cansativas, tornando
o texto mais fluido e confortável. Em todo caso, também não é uma obra
excelente que você ficará com ela em mente por muito tempo depois de ler. Mas
vale como um razoável apanhado de cerca de 450 páginas de informações diversas
sobre as maneiras que se usam para desvirtuar as evidências científias.
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