sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A Assustadora História da Maldade

 


Como disse Thomas Hobbes, o homem é o lobo do próprio homem. Essa frase resume muito bem a proposta peculiar do escrito de Oliver Thomson.

Primeiramente, você pode imaginar que vai encarar um volume repleto de descrições detalhadas e angustiantes sobre métodos de tortura, sofrimento, castigos e toda forma possível de infligir desconforto em seus mais diferentes níveis. Uma obra que seria o equivalente escrito a filmes como Jogos Mortais, que faria o mais sádico dos leitores entrar em êxtase ao correr as páginas descrevendo as mais abomináveis e criativas formas de fazer alguém sofrer. Se está esperando por isso, pode ter certeza de que não é o que você vai encontrar.

O autor optou em oferecer aos seus leitores um compêndio histórico sobre a maldade. Não espere por uma análise biológica ou psicológica sobre o que motivou os homens a cometerem crimes e procurarem requintes de maldade em suas ações, sejam individuais ou sejam grupais. Thomson nos presenteia com uma obra que encara a evolução da maldade ao longo do tempo, com uma visão bastante diversa sobre as motivações e inspirações que levaram às ações mais atrozes e condenáveis da história.

Ao permear por esse caminho, é preciso ter em mente que uma narrativa sobre a maldade não pode ficar separada de um perspectiva moral, variando no tempo e no espaço, bem como entre culturas. E Thomson sabe disso. É interessante notar que o que hoje é considerado uma forma de maldade, em outras épocas era tido como uma atitude de honra, ou mesmo respeitosa. E é revelador encarar as coisas sob essa ótica.

Vamos encontrar níveis surpreendentes de maldade e como ela foi habilmente utilizada para moldar os caminhos da história. As agressões no campo de batalha, o medo para exercer controle, o conflito para provocar divisões, a dor como forma de se libertar espiritualmente, ou punir por erros. Desde impérios, traições, jogos políticos, perseguições religiosas, o autor caminha pela história humana literalmente tocando na ferida em cada época. Evidentemente, não é possível escrever uma história de maldade sem detalhar algumas formas de tortura, e aqui o leitor mais sensível pode ficar com algum embrulho no estômago. Mas não se deixe levar por isso, pois as descrições não são viscerais e nem frequentes.

Um dos destaques da obra, e talvez sua maior vantagem, é que ao mesmo tempo que aborda a dor e sofrimento, o autor faz questão de apresentar as muletas morais que podem ter diminuído ou eliminado o conceito de sofrimento para o próprio carrasco. É verdade que houve muita gente que torturou, mutilou e matou pelo simples prazer em provocar dor, mas em outros casos a dor como punição ou forma de justiça podia ser moralmente tolerável para a época. E isso fica claro quando tratamos, no final da obra, sobre o holocausto nazista.

A escrita de Thomson não difere muito de outros autores que escrevem sobre história. Seu estilo praticamente descritivo tem tantos pontos fortes quanto fracos. Publicada pela Editora Prestígio, o livro de mais de 500 páginas possui margens muito, muito generosas, e é bastante ilustrado com figuras em preto e branco. Folhas brancas e densas o deixam um pouco mais pesado do que esperaríamos para um livro de tamanho médio. Espaçamentos e fontes maiores que o normal talvez tenham avolumado o livro além do que poderia ter sido. Não obstante, é uma obra que tem seu valor pelo ponto de vista histórico, e menos impressionante quanto seu título sugere.

 

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