O livro mais recente de Steven
Pinker não traz muito de novo. E francamente, achei bem fraco, em comparação
com suas outras obras. É a primeira vez que eu fiquei com essa sensação depois
de ler seu texto obsessivamente longo e repleto de dados. E pretendo explicar
pra você o que eu estou querendo dizer com isso.
A proposta de Pinker é simples:
mostrar como os ideais iluministas de razão e ciência foram (e são)
fundamentais para que a sociedade encontre caminhos socialmente e
ambientalmente sustentáveis, que beneficie a maior quantidade possível de
pessoas, independente de qual esfera social se encontrem, ou até mesmo
reduzindo as diferenças existentes entre as esferas sociais. As quase
setecentas páginas da obra têm esse único objetivo. Depois de explicar inicialmente
sobre o novo iluminismo que ele alude, o grosso da obra é um apanhado de dados
que mostram como a humanidade progrediu. E somente no final do volume, em menos
de cem páginas, ele oferece alguma coisa de ciência, razão e humanismo. E esse
desequilíbrio assombroso foi o que terminou deixando um gosto de desapontamento.
Para entender melhor essa sensação,
precisamos voltar ao seu livro anterior, o gigantesco Anjos Bons de Nossa Natureza
(resenha AQUI). Eu fiquei fascinado como ele conseguiu unificar tantos dados,
tão diversos, para explicar como a violência diminuiu ao longo da história da
humanidade, e como a sociedade como um todo foi beneficiada com isso. É uma
obra com centenas de dados, e apesar de ter recebido uma quantidade
considerável de críticas pelo seu “otimismo”, eu não posso deixar de recomendá-la
aqui. E se você ainda não se convenceu, leia minha resenha. Espero que lhe dê o
ânimo para encarar suas mais de oitocentas páginas.
Pois bem, o Novo Iluminismo soa
como se fosse um capítulo de Anjos Bons. A clara sensação de quem conhece os
dois volumes é que Pinker, no meio de sua pesquisa, percebeu que tinha material
para mais de um livro, enquanto escrevia. Notando que seu texto estava excessivamente
extenso, decidiu pegar parte dele e separar, para uma nova obra, a ser burilada
depois. Quando ele se dedica ao progresso (quase TODA a obra), é impossível não
se lembrar de Anjos Bons. Soa forçado. E bem forçado.
Ele usa o mesmo método de
gráficos para explicar como o progresso melhorou, exibindo diferentes índices para
comprovar o que está dizendo. E não é apenas isso. Os dois são tão parecidos que
ele mesmo não pode negar de fazer menções à Anjos Bons, justamente porque
muitos assuntos se sobrepõe em ambos os textos. Nada contra isso, mas me pareceu
muito um aproveitamento de material escrito do que essencialmente uma obra
sobre iluminismo. E para um livro que pretende fazer uma defesa à ciência, tem bem
pouca coisa sobre o papel da ciência na melhoria da humanidade. E eu esperava
ver muito mais nessa obra. Fiquei desapontado nesse quesito.
Pelo menos o mínimo ele entrega. O progresso como sendo melhorias em questões de pacifismo, meio ambiente, direitos humanos, conhecimento, ao longo da história. Torna-se uma boa fonte de informações, em especial porque está tudo na forma de dados. Mas não passa disso. O leitor ao final não vai sentir que leu um livro sobre iluminismo, mas sim que viu um capítulo perdido de Anjos Bons. E não é isso que você espera ao comprar uma obra.
Publicado pela Companhia das Letras, páginas foscas e fontes confortáveis ordenadas com bom espaçamento, tornam a leitura confortável. O peso do livro é que não é pra qualquer momento. E precisa de uma boa dose de paciência, especialmente se você leu seu livro anterior. É um pouco triste ver um escritor tão prolífico se tornar tão desnecessariamente pequeno assim com um livro massivo e repleto de informações, mas que não é original o suficiente para garantir seu espaço próprio. Espero que o futuro ensine boas lições e Pinker nos presenteie novamente com alguma coisa mais digna de leitura.
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