sexta-feira, 4 de junho de 2021

O Novo Iluminismo – em defesa da razão, da ciência e do humanismo


O livro mais recente de Steven Pinker não traz muito de novo. E francamente, achei bem fraco, em comparação com suas outras obras. É a primeira vez que eu fiquei com essa sensação depois de ler seu texto obsessivamente longo e repleto de dados. E pretendo explicar pra você o que eu estou querendo dizer com isso.

A proposta de Pinker é simples: mostrar como os ideais iluministas de razão e ciência foram (e são) fundamentais para que a sociedade encontre caminhos socialmente e ambientalmente sustentáveis, que beneficie a maior quantidade possível de pessoas, independente de qual esfera social se encontrem, ou até mesmo reduzindo as diferenças existentes entre as esferas sociais. As quase setecentas páginas da obra têm esse único objetivo. Depois de explicar inicialmente sobre o novo iluminismo que ele alude, o grosso da obra é um apanhado de dados que mostram como a humanidade progrediu. E somente no final do volume, em menos de cem páginas, ele oferece alguma coisa de ciência, razão e humanismo. E esse desequilíbrio assombroso foi o que terminou deixando um gosto de desapontamento.

Para entender melhor essa sensação, precisamos voltar ao seu livro anterior, o gigantesco Anjos Bons de Nossa Natureza (resenha AQUI). Eu fiquei fascinado como ele conseguiu unificar tantos dados, tão diversos, para explicar como a violência diminuiu ao longo da história da humanidade, e como a sociedade como um todo foi beneficiada com isso. É uma obra com centenas de dados, e apesar de ter recebido uma quantidade considerável de críticas pelo seu “otimismo”, eu não posso deixar de recomendá-la aqui. E se você ainda não se convenceu, leia minha resenha. Espero que lhe dê o ânimo para encarar suas mais de oitocentas páginas.

Pois bem, o Novo Iluminismo soa como se fosse um capítulo de Anjos Bons. A clara sensação de quem conhece os dois volumes é que Pinker, no meio de sua pesquisa, percebeu que tinha material para mais de um livro, enquanto escrevia. Notando que seu texto estava excessivamente extenso, decidiu pegar parte dele e separar, para uma nova obra, a ser burilada depois. Quando ele se dedica ao progresso (quase TODA a obra), é impossível não se lembrar de Anjos Bons. Soa forçado. E bem forçado.

Ele usa o mesmo método de gráficos para explicar como o progresso melhorou, exibindo diferentes índices para comprovar o que está dizendo. E não é apenas isso. Os dois são tão parecidos que ele mesmo não pode negar de fazer menções à Anjos Bons, justamente porque muitos assuntos se sobrepõe em ambos os textos. Nada contra isso, mas me pareceu muito um aproveitamento de material escrito do que essencialmente uma obra sobre iluminismo. E para um livro que pretende fazer uma defesa à ciência, tem bem pouca coisa sobre o papel da ciência na melhoria da humanidade. E eu esperava ver muito mais nessa obra. Fiquei desapontado nesse quesito.  

Pelo menos o mínimo ele entrega. O progresso como sendo melhorias em questões de pacifismo, meio ambiente, direitos humanos, conhecimento, ao longo da história. Torna-se uma boa fonte de informações, em especial porque está tudo na forma de dados. Mas não passa disso. O leitor ao final não vai sentir que leu um livro sobre iluminismo, mas sim que viu um capítulo perdido de Anjos Bons. E não é isso que você espera ao comprar uma obra.

Publicado pela Companhia das Letras, páginas foscas e fontes confortáveis ordenadas com bom espaçamento, tornam a leitura confortável. O peso do livro é que não é pra qualquer momento. E precisa de uma boa dose de paciência, especialmente se você leu seu livro anterior. É um pouco triste ver um escritor tão prolífico se tornar tão desnecessariamente pequeno assim com um livro massivo e repleto de informações, mas que não é original o suficiente para garantir seu espaço próprio. Espero que o futuro ensine boas lições e Pinker nos presenteie novamente com alguma coisa mais digna de leitura.


 

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