sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O Kindle


Enfim, me rendi.

Decidi adquirir um Kindle.

Depois de ver a experiência de minha esposa (uma leitora compulsiva, como eu) com um leitor de ebooks, decidi experimentar por mim mesmo. Ainda relutante, eu evitava sempre que podia. Até que surgiu uma promoção quase irrecusável. Cedi à tentação, e decidi comprar. Não demorou muito e chega o pacote pelos correios. Eu abro e me vejo tateando o pequeno objeto. Não exagero em dizer que me senti como um indígena isolado que, pela primeira vez, entra em contato com um espelho. Acreditam que eu cheguei até mesmo a cheirar aquela geringonça?

Passado o primeiro contato, seguimos para ligar o aparelho e ver suas funcionalidades. Embora seja bem intuitivo, ainda precisei de auxílio para configurar o tamanho das fontes e brilho da leitura. Depois de tudo configurado, e entendendo inclusive como se faz a compra de novos ebooks, decidi iniciar minha experiência de leitura.

Para quem é acostumado com livros físicos, como eu, ler no kindle é bem menos traumático do que aparenta ser. Eu imaginava que não conseguiria me adaptar à leitura sem ter a sensação do “passar de páginas” ou mesmo de sentir minha evolução no livro sem um clássico marcador. Não perceber o tamanho de um livro me pareceu desafiador. Por isso, para uma leitura rápida e experimental, comecei com algo bem leve. Visitando a livraria virtual, encontrei um volume de terror composto de histórias bem curtas, bem ao estilo de minhas leituras casuais. Vamos começar por aqui.

Bem, vou tentar descrever com o máximo de detalhes que eu puder, como é ler num kindle pela primeira vez. Antes, preciso esclarecer que eu trabalho a maior parte do tempo num computador, onde consulto com frequência sites com diversos textos, ou artigos em formato PDF. A sensação, embora não seja igual, é ligeiramente parecida. Ler em um kindle é o equivalente a ler um twitter ou um texto de facebook, sem a forçada luminosidade da tela do notebook, smartphone ou PC. Você ganha o conforto de uma leitura equivalente ao livro, com a vantagem de poder escolher o espaçamento das linhas, e perde o desconforto de estar focado por muito tempo em uma tela clara, ajustando o brilho. Quem é acostumado a ler textos no computador passando a barra de rolagem lateral, ou ler textos no smartphone dedilhando o touchscreen não deve sentir dificuldade em se acostumar com o kindle. Cada página passa à dedo, e você pode retornar com relativa facilidade. Textos continuados são especialmente mais confortáveis de se ler. E eu confesso, que logo nas primeiras páginas, simplesmente não fez diferença para mim se estava lendo um livro físico ou não.

Confortável à mão, o kindle não desaponta. Não lembro de quanto tempo demorei para ler os contos de terror, mas foi relativamente rápido e agradável. Comecei então a procurar livros de ciência, e confesso que foi aí que eu caí numa armadilha. Tive a fatídica ideia de aproveitar um feirão de livros virtuais, e passei quase dois dias antenado com as promoções relâmpago. Eu perdi a noção de preços e fui comprando quase que compulsivamente, os volumes que me interessavam e que estavam em promoção (poucos, felizmente). Eu posso dizer que, literalmente, paguei caro pela minha impulsividade. Mas agora eu tinha um estoque razoável de livros que vão me distrair por um bom tempo.

Como é ler um livro e não ter o prazer de vê-lo colocado em uma prateleira? Eu confesso que não senti nada em relação a isso. E eu achei, no primeiro momento, que eu teria um sentimento de frustração quanto a isso. Mas fico feliz em dizer que não. Não poder “ver” o livro na prateleira não me afetou. A leitura no kindle é facilmente adaptável e o fato dele ter um potencial de armazenamento gigantesco é uma vantagem impressionante, especialmente para leituras rápidas ou sossegadas, especialmente em viagens, quando você quer economizar espaço.

Sim, o kindle veio pra ficar, e promete ser uma alternativa muito boa para os livros físicos. E eu acho que ele não se popularizou ainda porque seu preço é bem salgado, bem como a compra de ebooks exige, pelo menos a princípio, um cartão de crédito. As diferenças de preços entre volumes físicos e volumes virtuais também não é significativa. Há casos até que o livro virtual é um pouco mais caro. Mas hoje, no caso de ambas as versões sejam vendidas pelo mesmo preço, eu não me envergonho em dizer que prefiro comprar a versão ebook. A compra é imediata e o livro torna-se disponível para você em segundos.

Ainda me considero um saudoso de livrarias. Tenho prazer de passear por elas contemplando as estantes. Gosto de ter o livro em mãos e folhear suas páginas. Mas hoje, já me pego com um novo hábito: tirar a foto do livro e procurar sua versão ebook, seja porque ela seria mais barata, seja porque ela economizaria mais espaço. Embora consiga ler livros de divulgação científica sem maiores problemas, não me enxergo consultando livros-texto ou livros especializados de minha área em um kindle. Talvez seja porque nunca precisei, e nem tentei. Isso apenas para dizer que o kindle encontrou seu espaço no coração dos leitores, mas com certeza não vai aposentar, em cenário algum, o bom e velho livro impresso.


 

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