Finalmente, cheguei neste best-seller internacional (como a
própria capa faz questão de enfatizar).
Talvez essa resenha esteja vindo
muito tarde, um longo tempo depois de que a febre do livro surgiu, chegou no ápice
e já foi basicamente enterrada, sendo substituída por outros títulos do mesmo
autor, que também já encontraram seu apogeu. A fama deu a Harari uma posição
privilegiada entre oradores, palestrantes e escritores sobre filosofia e
história humana, e lhe rendeu mais alguns volumes, que de longe não alcançaram
o prestígio e destaque de Sapiens. E, chegando a minha vez, pretendo mostrar pra
você, que acompanha meu blog, razões para ler, mas não necessariamente confiar,
neste livro.
Se eu fosse dizer uma razão pela
qual Sapiens foi um sucesso tão grande, no meio de uma dúzia de livros sobre a
história humana disponíveis por aí, eu de longe diria que é a maneira pela qual
ele dividir o seu livro. O grande mérito do autor foi conseguir enxergar,
dentro do período da história humana, os elementos chaves que realmente marcaram
nossa evolução. Ao invés de obedecer um linha linear e já bem clichê sobre a
evolução da nossa espécie, Harari decide arriscar em estabelecer os momentos
chaves levaram às modificações fundamentais da Humanidade ao longo de sua
história. E ao arriscar, ele acertou em cheio.
O autor decidiu separar seu livro
em quatro partes, baseado no que ele mesmo chamou de revoluções. E, parando
para pensar, realmente foram. A primeira grande revolução ele chamou de
cognitiva. O investimento em um cérebro volumoso e complexo, capaz de interagir
e realizar previsões sobre o mundo à nossa volta decididamente fizeram a grande
diferença. E nisso Harari, como um bom contador de história, descreve de
maneira suave e atraente. Os custos de um grande cérebro, as consequências intelectuais
de uma mente capaz de abstrair muito além do que se pode enxergar, levando inclusive
a armadilhas que nossa imaginação venha a nos pregar, e talvez até o surgimento
do pensamento religioso. Harari parece se divertir com suas ideias neste
caminho.
A segunda grande revolução foi a
agrícola. E ela é praticamente um consenso entre os historiadores, como o
próprio autor. A saída do nomadismo parece ter sido o estopim para o surgimento
de civilizações mais complexas, e há centenas de textos que concordam com isso.
E partindo justamente deste princípio, o autor entra na complexidade das
sociedades, pincelando sobre como elas partiram de pequenos agrupamentos até
cidades inteiras. E é justamente neste momento que Harari me decepciona bastante.
É triste ver ele apelando para uma armadilha lógica que chegou a ser comum na
minha época de graduação, sugerindo que o homem não domesticou as espécies,
sejam animais ou vegetais, mas sim foi domesticado por elas. E usando argumentações
biologicamente rasas, constrói um texto muito mais parecido com um ativismo
ambiental do que uma visão mais próxima do que se tem dentro da ciência. Neste
momento, a meu ver, seu texto perde muito sua força em credibilidade
científica. A partir daí, eu continuo a leitura com um pé atrás.
O terceiro capítulo é sobre comércio.
E aí ele parece acertar em cheio. As buscas e explorações, todas com boas
motivações para mover a balança financeira para um lado ou para o outro, soam
bem razoáveis. O movimento das massas humanas, procurando novos recursos, incentivando
outros, construindo impérios, destruindo histórias. O grande papel da moeda na
evolução do mundo é muito bem contada. Novamente, parece apenas um pouco
forçado que tudo, neste capítulo, seja motivado exclusivamente pelo lucro. Não
obstante, parece ser possível.
E no final, temos a revolução
científica. Um sub-produto da primeira revolução, com certeza. O autor não
economiza nas palavras para narrar a trajetória das modificações do mundo com base
no investimento em ciência e nas grandes descobertas. Talvez algumas
explicações para o investimento pesado em descobertas de regiões desconhecidas,
narradas por Harari, pareçam um pouco simplistas, mas não deixa de ser um texto
muito bem escrito e bem trabalhado. E nas revoluções científicas é que o livro
termina, chegando nos remédios, tecnologias, biologia molecular, e reflexões
futuras para a nossa história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário