sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Sapiens, uma breve história da humanidade

 


Finalmente, cheguei neste best-seller internacional (como a própria capa faz questão de enfatizar).

Talvez essa resenha esteja vindo muito tarde, um longo tempo depois de que a febre do livro surgiu, chegou no ápice e já foi basicamente enterrada, sendo substituída por outros títulos do mesmo autor, que também já encontraram seu apogeu. A fama deu a Harari uma posição privilegiada entre oradores, palestrantes e escritores sobre filosofia e história humana, e lhe rendeu mais alguns volumes, que de longe não alcançaram o prestígio e destaque de Sapiens. E, chegando a minha vez, pretendo mostrar pra você, que acompanha meu blog, razões para ler, mas não necessariamente confiar, neste livro.

Se eu fosse dizer uma razão pela qual Sapiens foi um sucesso tão grande, no meio de uma dúzia de livros sobre a história humana disponíveis por aí, eu de longe diria que é a maneira pela qual ele dividir o seu livro. O grande mérito do autor foi conseguir enxergar, dentro do período da história humana, os elementos chaves que realmente marcaram nossa evolução. Ao invés de obedecer um linha linear e já bem clichê sobre a evolução da nossa espécie, Harari decide arriscar em estabelecer os momentos chaves levaram às modificações fundamentais da Humanidade ao longo de sua história. E ao arriscar, ele acertou em cheio.

O autor decidiu separar seu livro em quatro partes, baseado no que ele mesmo chamou de revoluções. E, parando para pensar, realmente foram. A primeira grande revolução ele chamou de cognitiva. O investimento em um cérebro volumoso e complexo, capaz de interagir e realizar previsões sobre o mundo à nossa volta decididamente fizeram a grande diferença. E nisso Harari, como um bom contador de história, descreve de maneira suave e atraente. Os custos de um grande cérebro, as consequências intelectuais de uma mente capaz de abstrair muito além do que se pode enxergar, levando inclusive a armadilhas que nossa imaginação venha a nos pregar, e talvez até o surgimento do pensamento religioso. Harari parece se divertir com suas ideias neste caminho.

A segunda grande revolução foi a agrícola. E ela é praticamente um consenso entre os historiadores, como o próprio autor. A saída do nomadismo parece ter sido o estopim para o surgimento de civilizações mais complexas, e há centenas de textos que concordam com isso. E partindo justamente deste princípio, o autor entra na complexidade das sociedades, pincelando sobre como elas partiram de pequenos agrupamentos até cidades inteiras. E é justamente neste momento que Harari me decepciona bastante. É triste ver ele apelando para uma armadilha lógica que chegou a ser comum na minha época de graduação, sugerindo que o homem não domesticou as espécies, sejam animais ou vegetais, mas sim foi domesticado por elas. E usando argumentações biologicamente rasas, constrói um texto muito mais parecido com um ativismo ambiental do que uma visão mais próxima do que se tem dentro da ciência. Neste momento, a meu ver, seu texto perde muito sua força em credibilidade científica. A partir daí, eu continuo a leitura com um pé atrás.

O terceiro capítulo é sobre comércio. E aí ele parece acertar em cheio. As buscas e explorações, todas com boas motivações para mover a balança financeira para um lado ou para o outro, soam bem razoáveis. O movimento das massas humanas, procurando novos recursos, incentivando outros, construindo impérios, destruindo histórias. O grande papel da moeda na evolução do mundo é muito bem contada. Novamente, parece apenas um pouco forçado que tudo, neste capítulo, seja motivado exclusivamente pelo lucro. Não obstante, parece ser possível.

E no final, temos a revolução científica. Um sub-produto da primeira revolução, com certeza. O autor não economiza nas palavras para narrar a trajetória das modificações do mundo com base no investimento em ciência e nas grandes descobertas. Talvez algumas explicações para o investimento pesado em descobertas de regiões desconhecidas, narradas por Harari, pareçam um pouco simplistas, mas não deixa de ser um texto muito bem escrito e bem trabalhado. E nas revoluções científicas é que o livro termina, chegando nos remédios, tecnologias, biologia molecular, e reflexões futuras para a nossa história.

Publicado pela LPM, o livro físico é agradável em tamanho, com páginas brancas e fontes razoáveis em tamanho e formato. Possui algumas ilustrações em preto e branco. Harari não se tornou conhecido apenas pela sua história bem contada, mas também pelo seu estilo. Frases diretas, curtas, sem rodeios. Constrói o texto de forma que as páginas sempre parecem pedir que o sentido seja alcançado na página seguinte, o que instiga a leitura continuada. De fato, quase não senti as mais de quatrocentas páginas. Ele é um autor nato, e um escritor agradável. E é isso que deixo para você: Sapiens é uma leitura atraente e nem um pouco cansativa. Só não se esqueça que o texto não prima por correção científica em algumas partes. Fique de olho. 


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