À primeira vista, você pode ter
imaginado que o isolamento provocado pela pandemia seria uma excelente
oportunidade para adiantar projetos que estavam encalhados há tempos na sua
lista de afazeres. Você finalmente teria tempo para desenvolver metas que
estavam relegadas a segundo plano, num limbo eterno de "coisas pra
fazer". Uma destas é voltar a pegar o ritmo de leitura, e zerar de uma vez
por todas aquela pilha de livros que está do lado de sua cabeceira, lhe
encarando há meses, suplicando pela leitura. Agora, com o mundo praticamente
parado, é hora dar vazão às obras.
Mas isso não aconteceu.
Sua pilha continua lá, quase
intacta. Você até se esforça para sentar, em algum momento, e folhear as
páginas, se esforçando em lembrar dos últimos textos e continuar a linha de
raciocínio do livro. Mas alguma coisa não está certa. É como se seu interesse
pela leitura estivesse diminuído. A atenção requerida para o aproveitamento
ideal da obra não é a mesma que você tinha, quando não havia o problema do
isolamento. E mesmo assim, o "não fazer nada" na verdade nunca
aconteceu. Descobriu que a pandemia simplesmente modificou seus afazeres, e não
reduziu sua carga de trabalho como você esperava.
Mas mesmo assim, parece que sua
vontade e vigor para continuar lendo foi alterada. Esta sensação se aprofunda,
se torna mais intensa, e seu gosto pelo livro vai diminuindo gradativamente.
Sua paciência para sentar e ler é afetada, e você prefere outros
entretenimentos.
Se isso aconteceu com você, tenho
duas notícias a lhe dar: você não é o único, e isso não quer dizer que você
está perdendo o interesse na leitura.
O isolamento, seja voluntário ou
não, afeta nossa percepção de disponibilidade de tempo, e assim nossa forma de
enxergar as maneiras pelas quais devemos ocupar nosso tempo. O home office torna-se
uma atividade nova e precisa ser conciliada com o fato de que você precisa
estar ciente de que está em casa, o que exige novas atenções. Não tem como
negar que o isolamento e a enxurrada de notícias sobre a COVID-19 afeta nossa
auto estima, nossas emoções, em um cenário inédito e profundamente
desconfortável. Detestamos tais surpresas, e temos dificuldade em lidar e nos
adaptar a elas. E sem estar emocionalmente estáveis, exigir atenção para
continuar seus hábitos antigos, como o de ler, pode ser pedir demais.
Dê tempo ao tempo. Folheie suas
obras, sem pretensão ou sentimento de obrigação em voltar a ler. Mesmo que seja
por alguns segundos. Vá reconstruindo na sua mente a sensação de aproximação
com os livros. Acostume seu cérebro com um novo ritmo de leitura. À medida que o
tempo passa dentro deste novo cenário, vamos nos acostumando com a situação.
Precisamos apenas dar um passo de cada vez. Não se cobre muito, não se force
demais.
Tudo vai passar.
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