sexta-feira, 12 de junho de 2020

Richard Dawkins - Fome de saber, a formação de um cientista (memórias)


Richard Dawkins dispensa apresentações. O mais fervoroso defensor da Teoria Evolutiva por seleção natural de nossa época, o que lhe valeu o apelido de "o rottweiler de Darwin", autor do clássico O Gene Egoísta e que ainda por cima criador do conceito de Meme. Depois de décadas defendendo a ciência em programas de televisão, rádio, palestras, apresentando documentários, dando aulas públicas e escrevendo sem parar, chegou a hora dele nos contar um pouco de sua história.

Eu confesso que não tenho muito apreço por autobiografias. Acho que a tentativa do autor contar a sua própria história empaca inexoravelmente nas defesas psicológicas que lhe impedem de ter uma visão imparcial de tudo. Acredito que uma história sobre si mesmo parece ser mais autêntica quando feita por terceiros, que não precisam se sentir confortáveis o tempo todo com o texto sobre outrem. Podemos até nos sentir confortáveis em reconhecer alguns erros, más escolhas feitas ou até mesmo pequenos desvios morais, mas nada que fique muito além do que permitiríamos vir a público conscientemente. Mesmo assim, quis arriscar em conhecer a história do humano por trás do cientista, escrita por ele mesmo.

De fato, até o momento este é o livro menos interessante com qual me deparei, escrito por Dawkins. Ele procura contar sua história desde a infância até o começo de sua carreira como biólogo. Nascido no Quênia, enquanto colônia da Inglaterra, Dawkins tem uma vida, digamos, um pouco entediante. A história de sua família (avós e pais) bem como seus primeiros anos na escola não emplacam muito bem. Lembrar de músicas que se tocavam nas aulas ou no recreio, ou professores dos quais lembrava ou que fizeram alguma diferença na sua memória, não empolga mesmo na escrita fácil e agradável do autor. Detalhes que provavelmente ele acha muito interessante não chamam a atenção, nem episódios que na verdade não são diferentes de coisas parecidas pelas quais você ou eu passamos na nossa infância. E mais da metade da obra caminha neste sentido.

A coisa começa a ficar um pouco mais animada quando ele entra na faculdade, para fazer biologia. As aulas de graduação, os colegas, as primeiras experiências com cientistas renomados, como Konrad Lorenz, são histórias bem mais atraentes. Sua primeiras perguntas científicas, suas hipóteses, seus primeiros experimentos e primeira abordagens na ciência são páginas que realmente valem a pena ler. E por fim, a obra termina com a escrita do Gene Egoísta.

Publicado pela Companhia das Letras, o livro tem páginas amareladas e foscas, com boa tipografia, muito confortável para leitura, principalmente por dar uma impressão de que o volume é menor do que as suas reais trezentas páginas. Mas confesso que fiquei profundamente frustrado por perceber que este é apenas o primeiro volume da biografia de Dawkins. O segundo volume, intitulado Brief Candle in the Dar: My Life in Science, simplesmente não foi traduzido nem publicado! Entrei no site da Companhia das Letras, eles apenas ignoraram sua existência e traduziram o livro seguinte! Para leitores de língua portuguesa, é como um chute no estômago. Imagine que você assiste Os Vingadores, Guerra infinita no cinema e depois descobre que sua continuação, Vingadores, Ultimato simplesmente não vai passar nos cinemas, não vai ser traduzido ou legendado. Fica aqui meu protesto, que considero um desrespeito ao leitor, especialmente por uma das editoras que mais publicam sobre ciência no Brasil. 

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