É muito pouco provável que uma
obra de pouco mais de quinhentas páginas realmente consiga atingir o objetivo
que seu título propõe. Bem, vejamos o que nosso caro Bill Bryson tem a nos
contar.
Na verdade, seu livro trata do
começo do mundo, de forma física, química e biológica, até chegar na espécie
humana. Podemos enxergar que seu fascínio pelo tema de origens remonta a sua
predileção por física, coisa que o autor não tenta disfarçar de jeito nenhum.
Numa narrativa mista entre explicações de física e histórias de descobertas
científicas relevantes para que pudéssemos começar a vislumbrar como tudo surgiu
- desde as pesquisas das partículas subatômicas até os confins do cosmo através
da astronomia - o autor se esforça para que entendamos as forças que agiram em
todo o universo para que finalmente pudesse surgir um planeta como o nosso.
Passeando pela física de partículas, matemática e relatividade, Bryson se sente
muito confortável em criar uma narrativa que seja coerente e ao mesmo tempo
ligue todas as pontas. Digamos que ele tem um razoável sucesso em atingir este
objetivo.
Depois de sua retrospectiva sobre
as propriedades da matéria e a dança cósmica vislumbrada pelos cálculos e
observações astronômicas, chegamos então ao tempo do surgimento da Terra. Devo
salientar que este livro é um dos poucos que dedicam boas páginas para um
assunto que é literalmente profundo e enevoado em muitas incertezas. O autor
apresenta diversas especulações - nenhuma fugindo das parcas evidências
científicas disponíveis - sobre a formação da Terra e o que tem no seu centro,
baseado em pesquisas geológicas e em uma boa dose de vulcanismo. Não é uma das
leituras mais instigantes do mundo, mas tem lá seu valor.
Se estamos falando da Terra, é
hora de abordar uma coisa que até o presente momento, só existe aqui. A vida. E
para tratar deste assunto, Bryson recorre a um bocado de história e teorias. A
origem da vida é um tema bastante rico, e o autor tem farto material sobre o
qual pode discutir. Uma história aqui e ali para quebrar a tensão da narrativa
explicativa, e temos um capítulo bem mais rentável. Não se surpreenda quando
encontrar também uma boa dose de seleção natural e Charles Darwin. Tratar sobre
a origem da vida sem recorrer a estes dois pode ser considerado até um
sacrilégio para alguns leitores.
Agora então damos um novo salto,
e chegamos ao fim do livro, sobre o surgimento da espécie humana. Aqui não foge
muito à regra, quando o volume dedica páginas e páginas para nossos parentes e
primos extintos, na sua incrível jornada por um mundo inóspito e perigoso,
avançando estepe após estepe, enfrentando feras e novos humanos. No final,
chegamos onde nos encontramos no momento que estamos lendo o livro.
Publicado pela Companhia das
Letras, em um livro com uma curiosa capa preta, lilás, vermelha e azul (e
páginas margeadas de azul também), a obra fez um considerável sucesso na época
de seu lançamento, mas hoje parece ter caído em certo esquecimento. Bill Bryson
é um autor experiente, e sua narrativa não é ruim. Bem recheada de referências
científicas, sua obra conta uma narrativa mais comum sobre a origem do
universo, da terra e da vida. Uma leitura que não é espetacular, mas não deixa
de ser boa.
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