Confesso que eu nunca, nunca na vida iria imaginar que este
seria um título de um livro sobre estatística. Agora leia direito: eu falei sobre estatística, e não de estatística.
Se você tem alguma fobia com números, ou levou pau em matemática na escola e
ficou traumatizado, deixe-me lhe dizer uma coisa: este é o seu livro!
Este é um livro de história. Isso mesmo, história da
estatística. Você não vai encontrar nenhuma
(e eu repito, NENHUMA) equação ou coisa parecida nas quase
trezentas páginas desta obra tão original como cativante e maravilhosa. O
estatístico que a escreveu, David Salsburg, fez realmente um volume para se
tirar o chapéu.
Dono de uma narrativa simples e um extraordinário dom de
contar histórias, o autor nos convida a visitar o inusitado mundo dos
estatísticos. Seus profundos conhecimentos do assunto e sua escrita fácil em
tornar palpável um tema tão árido e assustador como este são simplesmente um
deleite para o leitor. Ele praticamente se detém em contar como nossa visão de
mundo saiu de um universo e uma visão escrava de medidas absolutas e perfeitas
para encarar a verdadeira natureza das variabilidades. Está certo que pregos e
parafusos precisam ter tamanhos e proporções exatas para funcionarem, e os
fabricantes tem de garantir isso. Mas o tamanho das plantas e o peso das
ovelhas não seguem essa ordem de jeito nenhum. Como viver em um mundo com
tantas variáveis? Como tratar com tantas diferenças? É possível enxergar
padrões no meio de tantas variações? A estatística chegou para mostrar que sim.
E autor faz isso de forma muito divertida.
Logo no começo, a história da senhora tomando chá já desarma
o leitor mais receoso com uma obra falando sobre números. Depois ele se
aprofunda nas enormes mudanças que ocorreram na própria estatística, ao longo
de décadas, nas mãos de personagens que você no máximo só deve ter ouvido
falar, quando usou programas de computador para analisar dados. Se você tem
alguma experiência com isso, e já precisou utilizar de métodos e teste
estatísticos em sua vida, a leitura vai ser bem mais agradável. E por um
simples motivo: os testes estatísticos recebem o nome de seus criadores. São
estas pessoas que aparecem nas páginas da obra. Ele simplesmente nos conta a
vida de cada um deles, como influenciaram a estatística, e suas peculiaridades.
Desde gênios e verdadeiros jovens com enorme talento numérico, como Ronald
Fischer, até personalidades produtivas e práticas como John Tukey. Sem falar de
uma profunda rede de intrigas entre muitos deles. Rancor, vingança e desaforos
não faltaram neste seleto mundo dos que trabalham com números. Uma verdadeira
novela.
O melhor da história toda é justamente que o autor sabe
trabalhar sua narrativa mesclando o raciocínio dos estatísticos com os
problemas próprios da estatística, suas vantagens e desvantagens na interpretação
dos dados por números e testes. Então você entende com mais clareza o que
motivou cada um deles em pensar em soluções que pudessem resolver problemas tanto
matemáticos como práticos. É gostoso começar a acompanhar (e entender) o
raciocínio envolto nas razões que os levaram a desenvolver novos métodos para
compreender o mundo. E isso é explicado com muitos detalhes, de forma branda e
bem satisfatória. Um verdadeiro manjar.
Publicado pela Zahar, o livro tem menos de trezentas
páginas, e flui que é uma beleza pelo leitor. O estilo é instigante e prende a
atenção para o próximo passo da história. Folhas brancas com tipografia e espaçamentos
perfeitos, dá pra você levar para qualquer lugar e fazer sua leitura tranquila.
Esta sim é uma obra como poucas, que você não esquece com facilidade, lhe dá
bons momentos agradáveis e ainda por cima retira um pouco de seu receio por
números. Este com certeza eu recomendo.
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