quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Cartas a um Jovem Cientista



Escrever para o público em geral parece ter caído nas graças de Edward Wilson. Somado a isso o fato de estar ciente de que a carreira científica mostra-se um desafio que não cabe nos ombros de muitos (falando inclusive como aluno e mestre) ele parece ter tomado a si a responsabilidade de esclarecer um pouco o universo do cientista. Especialmente para aqueles que desejam ingressar neste terreno.

Wilson viveu uma vida produtiva e recheada de oportunidades. Demonstrou desde cedo o gosto pela ciência, e construiu uma carreira sólida e respeitável. Depois de trilhar os caminhos de estudante, pesquisador e orientador, enfim decidiu compartilhar um pouco de sua vasta experiência conosco.

Nesta obra, Wilson faz uma retrospectiva crítica de sua própria jornada, para que ela sirva como um grande conselho aos futuros cientistas. Desde as curiosidades de sua infância e seu apetite inato para as maravilhas do mundo biológico, até seu posicionamento como o grande professor e pesquisador que se transformou. Note bem que a obra, apesar de apresentar traços biográficos, não se encaixaria muito bem em ser classificada como tal. Wilson tem consciência disso quando delineia suas ideias e lança sugestões voltadas especialmente para a juventude, naquele momento meio estranho, meio incerto, onde nossa mente vaga apenas nas dúvidas, nas incertezas do que fazer no futuro. Se você está na fase do "o que vou ser quando crescer", e tem uma quedinha, uma dúvida sobre ser ou não cientistas, então este livro é seu.

E os conselhos não são supérfluos, nem exagerados. A leitura da obra pode lhe dar uma bela amostra de quais devem ser suas características, caso você queira se tornar um cientista no mundo de hoje, e adicionada de sugestões práticas interessantes. Por exemplo, alunos que queiram ingressar na academia devem se vincular a professores e pesquisadores que possam lhe oferecer um excelente e produtivo laboratório de pesquisa. Estimula que o jovem cientista dedique algum tempo no meio de suas atividades para realizar pequenos experimentos informais, em especial para aguçar seu instinto em problemas específicos ou na arte de encarar perguntas e raciocinar sobre possíveis experimentos. Estas pequenas sugestões, para o leitor mais atento, vão fazer uma grande diferença no aproveitamento desta obra. Esse é especialmente um texto para ser lido e compreendido nas suas entrelinhas, porque são nos detalhes que conseguimos absorver o melhor da obra.

Misturadas às suas experiências e conselhos, o livro não deixa o leitor desapontado no que se refere a conteúdo científico. Como sempre Wilson passeia por fatos e histórias que enriquecem o leitor, no brilhantismo que é sua escrita leve e agradável. Não raro você é presenteado com detalhes e descrições de fenômenos biológicos e naturais que só as mãos de um mestre perspicaz são capazes de apontar. Prepare-se para adentrar pesadamente no universo das formigas, a especialidade do autor. Desde suas impressionantes castas até o papel dos odores na comunicação, não serão poucos os exemplos escolhidos para ilustrar muitas de suas aventuras e seus conselhos.

Por fim, a obra encerra com uma pincelada sobre ética na ciência, que ocupam curtas duas páginas. Mas temos aí um Wilson direto e afetuoso. Talvez as duas páginas mais contundentes de toda a obra.

Publicado pela Cia das Letras, traz uma das capas mais originais que eu podia imaginar para um livro com este título. Livro fino e ilustrado, com tipografia confortável impressa em papel amarelado. Este volume é um verdadeiro presente para os leitores que admiram a escrita ligeira e rica de um dos maiores entomologistas de nossa época. E se você é um jovem cientista sequioso de alguns bons conselhos de um pesquisador experiente, achou o volume certo.

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