Confesso que esse título me deixou intrigado.
Folheei o livro algumas vezes antes de decidir comprar.
Depois então entendi o que ele quis dizer. Mas preciso dizer que o subtítulo
poderia ter sido melhor pensado, para fornecer uma ideia mais clara dos
objetivos dos autores. A alusão ao Golem, o monstro que é descrito como sendo
feito de barro, argila ou até pedra, da mitologia judaica, que foi criado por
um feiticeiro para proteger os judeus da perseguição, é pelo menos criativa.
Harry Collins e Trevor Pinch decidiram escolher esta criatura porque ela é
representada como sendo um ser com força monstruosa, mas completamente
dependente das ordens dadas pelos processos mágicos que lhe deram vida. O Golem
não é dotado de livre arbítrio, e por isso pode portar-se como uma criatura
inofensiva e ingênua, ou um monstro destruidor e selvagem, de acordo com as
ordens que receba. É justamente nisto que fica a comparação.
A obra é um apanhado de casos controversos de ciência, desde
sua origem até suas críticas, das pessoas envolvidas e da reação da imprensa e
do público. Vamos encontrar aqui detalhes de interpretação de informações de
controversas experiências de transferência química da memória feita com
planárias. O épico experimento de Louis Pasteur, que teria provado
definitivamente a teoria da biogênese e por fim martelado o último prego sobre o
caixão da geração espontânea, numa narrativa que apresenta um ponto de vista
mais político e menos experimental do que esperamos que tenha sido. A polêmica
gerada por uma falsa história imensamente alardeada, sobre a inacreditável
tecnologia que teria permitido aos físicos descobrirem a fusão a frio. E outros
casos menos conhecidos, que são explorados pelos autores na obra.
O volume se concentra fundamentalmente no elemento humano
que protagoniza todas estas histórias, a peça mais falha da equação científica.
Os autores exploram o contexto, as motivações, as influências e pactos que
nortearam muitas decisões e motivações dos principais atores em cada um dos
episódios. Não encontramos uma análise profunda da ciência por trás, mas sim o
que norteou a elaboração e interpretação dos resultados que eles obtiveram. A
única coisa que une a todos é a proposta científica experimental dos exemplos
escolhidos. A ciência neste contexto é o Golem. É o gigante atrapalhado que foi
mal conduzido por homens falíveis em episódios com diferentes graus ou níveis
de responsabilidade pelo que estavam fazendo. Encerram a obra com uma defesa do
método científico, e uma boa apologia de como a mesma deve ser tratada tanto
pelos cientistas como pelo noticiário público, que frequentemente adiciona exageros
ou deformações.
Publicada pela Editora Unesp, o volume é confortável, com
tipografia mais arredondada impressa sobre papel amarelado fosco. Vale a pena
para servir como consulta de exemplos, mas não é daqueles livros que lhe marcam
e vem rapidamente à sua mente. A narrativa não chega a ser empolgante, mas por
se concentrar no aspecto mais humano das histórias, mantém um ritmo razoável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário