quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O Golem - o que você deveria saber sobre ciência



Confesso que esse título me deixou intrigado.

Folheei o livro algumas vezes antes de decidir comprar. Depois então entendi o que ele quis dizer. Mas preciso dizer que o subtítulo poderia ter sido melhor pensado, para fornecer uma ideia mais clara dos objetivos dos autores. A alusão ao Golem, o monstro que é descrito como sendo feito de barro, argila ou até pedra, da mitologia judaica, que foi criado por um feiticeiro para proteger os judeus da perseguição, é pelo menos criativa. Harry Collins e Trevor Pinch decidiram escolher esta criatura porque ela é representada como sendo um ser com força monstruosa, mas completamente dependente das ordens dadas pelos processos mágicos que lhe deram vida. O Golem não é dotado de livre arbítrio, e por isso pode portar-se como uma criatura inofensiva e ingênua, ou um monstro destruidor e selvagem, de acordo com as ordens que receba. É justamente nisto que fica a comparação.

A obra é um apanhado de casos controversos de ciência, desde sua origem até suas críticas, das pessoas envolvidas e da reação da imprensa e do público. Vamos encontrar aqui detalhes de interpretação de informações de controversas experiências de transferência química da memória feita com planárias. O épico experimento de Louis Pasteur, que teria provado definitivamente a teoria da biogênese e por fim martelado o último prego sobre o caixão da geração espontânea, numa narrativa que apresenta um ponto de vista mais político e menos experimental do que esperamos que tenha sido. A polêmica gerada por uma falsa história imensamente alardeada, sobre a inacreditável tecnologia que teria permitido aos físicos descobrirem a fusão a frio. E outros casos menos conhecidos, que são explorados pelos autores na obra.

O volume se concentra fundamentalmente no elemento humano que protagoniza todas estas histórias, a peça mais falha da equação científica. Os autores exploram o contexto, as motivações, as influências e pactos que nortearam muitas decisões e motivações dos principais atores em cada um dos episódios. Não encontramos uma análise profunda da ciência por trás, mas sim o que norteou a elaboração e interpretação dos resultados que eles obtiveram. A única coisa que une a todos é a proposta científica experimental dos exemplos escolhidos. A ciência neste contexto é o Golem. É o gigante atrapalhado que foi mal conduzido por homens falíveis em episódios com diferentes graus ou níveis de responsabilidade pelo que estavam fazendo. Encerram a obra com uma defesa do método científico, e uma boa apologia de como a mesma deve ser tratada tanto pelos cientistas como pelo noticiário público, que frequentemente adiciona exageros ou deformações.

Publicada pela Editora Unesp, o volume é confortável, com tipografia mais arredondada impressa sobre papel amarelado fosco. Vale a pena para servir como consulta de exemplos, mas não é daqueles livros que lhe marcam e vem rapidamente à sua mente. A narrativa não chega a ser empolgante, mas por se concentrar no aspecto mais humano das histórias, mantém um ritmo razoável.

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