Decidi escrever este
texto depois de dar uma boa olhada no meu blog e na minha prateleira de livros.
Passeando as vistas sobre os meus títulos, me deparei com algumas obras que me
foram presenteadas como sendo científicas, e que na verdade não eram. Por um
conselho de amigo, me abstenho de resenhar volumes que decididamente não
gostei, ou são claramente enganadores. Felizmente esta literatura é mais
escassa, e logo nas primeiras paginadas você já reconhece o estilo maroto do
autor que quer vender gato por lebre.
Me recordando disto,
pensei em sugerir algumas dicas que possam nortear o leitor de ciência para
escolher um bom volume. Baseado em minha experiência, talvez estes pequenos
conselhos possam ser úteis na hora de investir um bom dinheiro em uma obra que
realmente valha a pena ser lida. Vamos lá.
1) Títulos e subtítulos. Estes são o principais chamativos de uma obra. É aqui que o
pessoal do marketing cai em cima, para elaborar a melhor forma de motivar você
a começar a folhear uma obra. Se for uma tradução, não esqueça de olhar o nome
do título original. Veja se houve alguma deturpação, ou se pegaram realmente a
ideia original e a transcreveram da forma mais fiel possível. Isso não é um
indicador de que o livro presta ou não, mas uma forma de você ver se eles foram
bons o suficiente para adaptar o que o autor quis dizer. Mesmo que o título
seja gigante e feito para chamar sua atenção, fique atento nos subtítulos. Às
vezes, eles são mais reveladores e servem como um excelente resumo da obra. Já
li muitas textos com títulos horríveis, que foram “salvas” pelos subtítulos.
2) Temas. Seja prudente com a obra que
você vai escolher. É certo que os leitores de divulgação científica têm suas
preferências por áreas. Se você sabe que o assunto a ser abordado é mais
frequentemente usado de forma equivocada, e pouca gente tem realmente um bom
domínio no assunto, é hora de você folhear o texto e se certificar de que o
autor tem compromisso com o embasamento científico. Temas polêmicos são usados
tanto por autores de má fé como autores de ciência. Ambos para diferentes fins,
obviamente. Se certifique de que o escritor é realmente um conhecedor da área
para não confundir alhos com bugalhos.
3) Autores. Aqui não tem muito mistério. À
medida que você vai lendo obras de ciência, você vai se acostumando com
determinados estilos dos autores. Neste caso, você começa a se interessar pelo
que ele tem a dizer, ou reconhece que seu jeito de abordar os assuntos lhe é
agradável. Quanto mais famoso, geralmente menos dúvida você tem em estar comprando
uma obra que vai lhe satisfazer. Por outro lado, se o autor não é conhecido,
recomendo que você busque na própria obra um pouco sobre ele. Veja sua
formação. Se ele for um cientista, que esteja lecionando em uma universidade ou
trabalhe em um instituto de pesquisa, é mais confiável que ele traga
informações cientificamente embasadas. Por outro lado, ele pode ser um
jornalista da ciência, ou um divulgador científico popular. Nestas duas
ocasiões, se dá um voto de confiança para ver se ele se mantém a mesma
desenvoltura no terreno da escrita. Aqui é um passo de risco mesmo. Você está
apostando que ele é bom, e vai pagar pra ver.
4) Bibliografia. Aqui eu recomendo fortemente que você vá para o final da obra e
folheie quais as referências que ele utilizou para construir seu texto. Meu
nível de confiabilidade na obra é proporcional ao número de artigos científicos
e livros consultados. É comum que você seja apresentado a novos e talentosos autores desta forma, e isto é uma grande vantagem. Fiquei sabendo de livros de
divulgação científica muito interessantes justamente porque eles haviam sido
citados por outros autores que eu estava lendo. E não tinha encontrado eles na
internet ou prateleiras de livrarias. E quando a obra é boa, o autor do livro
que você está lendo faz questão de mencionar isso. Quando olhar a bibliografia,
tome cuidado para ver se as referências usadas fazem sentido. Por exemplo, se é
um livro sobre física, há periódicos de física que tendem a publicar artigos de
maior qualidade. Se o autor bebeu desta fonte, as chances de ser uma obra mais
esclarecedora são altas. Agora tome cuidado: certos livros recorrem a artigos
científicos que foram publicados há muito tempo atrás. E nesta época, era mais
fácil publicar sobre pseudociência. Se não for uma obra de cunho histórico,
preste atenção no que ele cita e como ele cita suas referências.
5) Ilustrações. Uma obra de divulgação
científica pode ou não conter imagens. Ao folhear, passe as vistas e se detenha
um pouco nelas. Livros científicos costumam recorrer a imagens, esquemas e
gráficos. Se você reconhecer certas ilustrações com temas corriqueiros de
natureza científica com os quais você já está familiarizado, é uma boa
indicação de que o texto está indo no caminho certo. Caso ainda tenha dúvidas,
pegue a legenda da figura e procure no livro em que contexto ela está sendo
abordada. Muito dificilmente uma obra cita uma ilustração de forma solta. Ela
deve estar sendo discutida no corpo do texto.
6) Editoras. Até algum tempo atrás, eu nunca
tinha prestado atenção se a editora influenciava uma obra. Minha opinião mudou
radicalmente depois de uma dezena de títulos lidos. Existem certas editoras que
gostam de investir em obras de ciência, e decidem traduzir e comercializar um
volume quando ele tem um bom respaldo científico. Por outro lado, outras buscam
títulos polêmicos ou chamativos, simplesmente para fazer dinheiro ou apenas
achando que ela é científica por usar alguma palavra “da ciência”. Notei que
boa parte de meu acervo pertence a um grupo muito reduzido de editoras. Já vi
livros com temas científicos atraentes, produzidos por editoras que são
conhecidas por publicar obras de cunho esotérico. Uma folheada rápida é
suficiente para que você evite uma cilada. Editoras grandes e conhecidas tem
certa confiabilidade nas obras que decidem comercializar, porque precisam ser
mais prudentes ao que vão oferecer ao seu público. Editoras universitárias
também são boas fontes de obras confiáveis.
7) Leia um ou dois parágrafos da
obra. Com o
tempo e experiência, você vai começar a notar que é possível se identificar com
algum autor apenas vendo como ele costuma escrever as coisas. Nem todo
cientista ou escritor de divulgação científica em começo de carreira acerta de
primeira. E talento para escrever não é uma coisa muito comum. Então eu
recomendo que você pegue o volume, encontre uma cadeira mais confortável se
tiver, e encare parte do texto. Digo um ou dois parágrafos porque geralmente
isto basta para você sabe se o texto é interessante, está ao seu gosto e agrado.
Se o autor for bom, não importa o que ele esteja falando, vai lhe chamar a
atenção. Isso pode ser bom ou ruim. Use seu raciocínio para identificar nas entrelinhas a mensagem que ele quer passar.
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