Uma obra prefaciada pelo
consagrado Stephen Jay Gould não é de se deixar de lado. E se você não conhece
Jay Gould, abra uma segunda aba no seu navegador, vá para o site de uma sebo de
sua preferência e encomende alguma obra dele. Infelizmente não há perspectivas
para que seus livros sejam reeditados, e praticamente todos estão esgotados nas
editoras.
E o que torna um livro tão
especial para ser prefaciado por este paleontólogo que já apareceu em Os Simpsons, conversando com Lisa
Simpson sobre o suposto aparecimento de um fóssil de um anjo nas escavações de
uma obra (lembro do episódio como se estivesse assistindo agora)? Digamos que
neste caso, o título simplesmente diz tudo. Boa jogada de marketing que deu
muito certo, para um público formado por leitores ávidos por literatura cética escrita
por um homem que foi fundador e redator do famigerado magazine The Skeptical Inquirer. Jay Gould era um
defensor do pensamento cético, e deve ter sentido prazer em prefaciar o volume
de um cético tão ativo quanto ele. Então, mãos à obra.... quero dizer, vamos à obra.
Nota-se que seu autor, o
americano Michael Shermer, fez o dever de casa para poder escrever o livro.
Posso dizer que ele apresenta uma obra bem recheada de argumentos e de
histórias. Seu estilo flui de forma quase jornalística, provavelmente em
decorrência de sua experiência como redator, o que torna a leitura bem mais
agradável. Dá pra notar que ele está ávido para fazer narrativas, mas
claramente sua intenção de deixar o livro mais condensado é um freio no seu
lápis, e ele procura se moderar. Sua escrita tenta criar um balanço entre a
tendência de contar histórias com a necessidade de passar a compreensão que
temos de como entendemos o mundo. Ele navega justamente nas falhas e tendências
que nosso cérebro tem em relação à interpretação do mundo ao redor, e como isso
afeta nosso poder de percepção e compreensão da realidade. O texto é bem recheado
de fatos e personalidades, ora conhecidas, ora desconhecidas, o que torna a leitura bem mais agradável. Como é de praxe,
ele procura diferenciar ciência de pseudociência, e é bom ao abordar sobre falácias. Recomendo que leia com mais atenção nesta parte. Dedica um tempo relativamente curto para fazer isso, e então entrega
boa parte da obra para uma visão cética e acirrada de casos envolvendo crenças
equivocadas e superstições. Encontramos então um Shermer ativista do ceticismo.
Talvez ele tenha se alongado
demais nestes casos muito específicos. Shermer parte para uma análise crítica
de experiências de quase-morte, abduções, criacionistas e negadores do
holocausto. Sua veia jornalística neste ponto parece saltar e ele se deixa
levar pelo instinto investigativo. Mas seu estilo torna a viagem agradável, e
você se depara com histórias interessantes. Algumas destas protagonizadas por
ele mesmo. Vale a pena seguir o texto. Além de tudo, esta obra é um alerta
constante para a incrível e infindável criatividade daqueles que buscam a cada
momento se aproveitar das falhas de nosso maquinário cerebral tem de pensar
criticamente. Se você já navegou nas obras pseudocientíficas de auto-ajuda, vai
encontrar alguns nomes famosos nestas páginas. Ao final, ele parte para um curioso tópico, no qual procura explicar por que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas. Uma verdadeira cereja do bolo.
Publicado pela JSN, o livro tem
páginas brancas e foscas, de capa mole. O espaçamento entrelinhas é pequeno e as
fontes se adaptam para facilitar uma leitura continuada, onde variam conforme se destacam as citações. O livro é ilustrado e conta
com um índice remissivo e boas referências bibliográficas. É uma obra que vale
a pena ter em casa.
Sugiro este livro, principamente para universitários que estão se preparando para fazer pesquisa cientifica. Mas, depois da pandemia do Covid-19, fiquei triste, pois até professores, médicos, acreditaram no cara que disse ser apenas "gripezinha" (conheço dois que morreram 'disso'), acreditaram em cloroquina e invermectina para curar Covid-19, acreditaram em charlatães (presidente, politicos, pastores ignorantes, e até médicos, que colocaram a ideologia acima das evidências científicas), acreditam que nazismo é de esquerda, acretitam em fake news, etc.
ResponderExcluirFui professor universitário por mais de 40, últimos 20anos preparei orentandos para fazer pesquisas cientificas.
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