Se você já acompanha meu blog, então você já chegou aqui com
um interesse por literatura de divulgação científica. Pois bem. Estamos nos
referindo agora a um dos autores mais conhecidos sobre o assunto, e
provavelmente a inspiração de muitos divulgadores científicos da atualidade.
São poucas as pessoas que se interessam por ciência e nunca tenham ouvido falar
do astrônomo Carl Sagan. Se você é uma delas, então segue um excelente conselho
sobre este simpático americano: leia-o.
Sagan popularizou-se pela sua notável série de televisão Cosmos, um verdadeiro fenômeno em termos
de uso de veículos de comunicação para ensinar sobre ciência. Além de ter sido
extremamente bem sucedida, com uma audiência absurda (numa época em que a
televisão reinava absoluta como meio de comunicação áudio-visual) e
extremamente bem conceituada. Talvez este seja o maior exemplo que temos de como
é possível levar ciência de forma simples e eficiente para centenas de milhares
de pessoas, tendo obviamente como carro chefe um apresentador carismático e
sorridente como Sagan era, além de cientista.
Se ele se notabilizou por seu programa de televisão, não deixou
a literatura por menos. No seu Mundo
Assombrado pelos Demônios, Sagan deixa um pouco de lado seu ímpeto de
mostrar e deslumbrar o público com ciência para se dedicar a uma parte menos
exuberante, mas não por isso menos importante, que é mostrar como ciência
funciona. O título, por exemplo, faz uma alusão ao teor geral que vai nortear
todo seu texto. Tomando uma postura mais ativista, Sagan decide permear o mundo
das crendices, lendas, conspirações e toda sorte de pseudociência que está
espalhada por aí. Mas seu volume não
consiste somente neste raso terreno pouco amistoso. Entendendo que atacar as
pseudociências de direta não é, digamos assim, rentável, ele decide trabalhar no
delicado universo de como pensar
sobre o mundo. De certa forma, está aí o diferencial de seu texto.
Com uma narrativa cativante e simples, embasada na sua
gigantesca experiência, Sagan nos apresenta um volume ambicioso. Aqui seu
objetivo é mostrar o raciocínio cético a respeito das informações a que temos
acesso, e ele não poupa espaço para fazer isso. Sustentado em dezenas e dezenas
de relatos bem escritos e curiosos, desde alucinações até alienígenas, Sagan
vai conduzindo o leitor nestas histórias e ao mesmo tempo lhe convida para que
raciocine de forma imparcial sobre cada uma delas. Numa tacada de mestre, Sagan
envolve o leitor na forma como um cientista pensa, acompanhando-o na sua
análise sobre cada uma destas questões. Talvez este seja o livro mais popular
que se tem hoje que nos apresenta de forma clara às famigeradas falácias. Ele entendia que a nossa capacidade
de discernir o certo do errado estava centrada no discurso na qual a informação
estava inserida, e que precisávamos aprender a reconhecer argumentos falhos,
para assim ativar nosso precioso "desconfiômetro" e não se deixar
enganar. Sua obra apresenta um vasto ensaio na refinada arte de detectar
mentiras (e isto é um dos nomes do capítulo de seu livro).
Seu texto é uma verdadeira ode à ciência e ao pensamento
científico. Merece uma leitura inicial completa para garantir uma imersão mais
efetiva na arte de pensar ceticamente. Não sendo apenas uma dentre muitas, o
Mundo Assombrado pelos Demônios é leitura altamente recomendada para quem quer
dar os primeiros passos em desenvolver uma visão crítica sobre o mundo. E a
caneta de Sagan fez escola. Não exagero em imaginar que sua obra foi inspiração
para dezenas de divulgadores científicos que lhe seguiram.
Disponível na versão pocket
da série Companhia de Bolso, da Companhia das Letras, o livro é elegante, em
páginas foscas e amareladas. Para economizar espaço, o espaço entrelinhas é
reduzido, mas a fonte destaca-se de forma elegante. Não terá problemas na
leitura. As quase quinhentas páginas simplesmente desaparecem pelo formato
reduzido da obra, trabalhada num ritmo agradável que convida à leitura rica e
continuada. Você vai gostar.
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