Pois é. Munido de minhas
alpercatas de passeio (como se eu tivesse outras), fui encarar o templo literário
da perdição (é fácil você ficar perdido naquele labirinto de stands) com uma missão a cumprir. Mais uma bienal e mais um desafio: promoções de livros de
divulgação científica, sejam de novos autores estreando no terreno ou dos clássicos que já
conhecemos.
Primeiramente, não tenho críticas
à bienal. Pelo menos críticas muito sérias. O espaço é amplo e a proposta é
louvável. Você vai encontrar muitas promoções e livros verdadeiramente baratos.
Como é de se esperar, as editoras vão jogar todas as suas cartas na divulgação
da literatura mais comum e mais atraente para o maior público possível. Inclua
aí livros autores consagrados, os grandes clássicos, obras que deram origem a blockbusters nos cinemas e seriados famosos. Por exemplo, nunca tinha visto uma oferta tão escancarada das obras de Stephen King, justamente depois do lançamento de uma das melhores adaptações de seu conto para a telona. Passei a considerar o filme It 2 uma obra quase messiânica, pois fez um
verdadeiro milagre (re)colocando o consagrado autor da literatura de terror de
volta nas mesas destacadas de muitas editoras. E tinha gente na fila do caixa comprando
o tijolo de King por até setenta reais.
Por outro lado, o leitor mais
específico sai perdendo. Centenas e centenas de títulos espalhados sem
muita ordem sobre mesas e prateleiras apinhadas de pessoas. Dá uma sensação de
claustrofobia agoniante pela qual nem todo mundo está bem preparado para passar. Talvez
seja um efeito do começo da Bienal, quando os primeiros visitantes querem aproveitar o que tem
disponível. De verdade, não sei. Mas nas minhas buscas, senti uma profunda
falta de ordem que pudesse me orientar para um porto seguro feito de livros de
divulgação científica, em praticamente todos os stands.
Em uma curta jornada de quase
três horas (a oferta é realmente muito grande, e não dá pra passar as vista de
forma mais meticulosa em cada uma das editoras neste espaço de tempo), senti
profundamente a falta de autores de popularização científica. Para não dizer
que não encontrei nada, consegui enxergar na editora Imperatriz livros de Sagan,
Dawkins, Hawkins, DeGrasse Tyson, Pirula e alguns menos conhecidos. Mesmo
assim, as promoções não estavam tão atraentes (variavam entre 10% a 20% de um
preço já razoavelmente alto), e não me senti inclinado a investir. De resto,
minha busca foi frustrante.
Sabe, não vou culpar ninguém por
causa disso. Eu entendo a necessidade das editoras de promover o máximo
possível os livros com maior saída. E também entendo a falta generalizada de
interesse que o público tem por livros sobre ciência. Sequer os preços ajudam. Livros bons de ciência não são baratos, e é preciso uma boa dose de incentivo pessoal e vontade para investir nesta literatura. Além disso, a grande maioria não tem o hábito de ler, e desta forma a literatura científica
não goza do prestígio de ser colocada no panteão dos "mais vendidos".
Apesar disto, a Bienal é um evento gigantesco, que dura uma semana inteira repleta
de pessoas. E isso com certeza é positivo.
Resumindo, a bienal é um bom
pontapé inicial para instigar o interesse por livros e pela leitura. É
igualmente boa para um leitor voraz que tem um apetite respeitável para uma
variedade grande de literatura, e quer garimpar promoções. Para leitores mais específicos, recomendo pedir
as obras pela internet aproveitando algum cupom de frete grátis.
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