sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Em busca da divulgação científica perdida: A XII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco



Pois é. Munido de minhas alpercatas de passeio (como se eu tivesse outras), fui encarar o templo literário da perdição (é fácil você ficar perdido naquele labirinto de stands) com uma missão a cumprir. Mais uma bienal e mais um desafio: promoções de livros de divulgação científica, sejam de novos autores estreando no terreno ou dos clássicos que já conhecemos.

Primeiramente, não tenho críticas à bienal. Pelo menos críticas muito sérias. O espaço é amplo e a proposta é louvável. Você vai encontrar muitas promoções e livros verdadeiramente baratos. Como é de se esperar, as editoras vão jogar todas as suas cartas na divulgação da literatura mais comum e mais atraente para o maior público possível. Inclua aí livros autores consagrados, os grandes clássicos, obras que deram origem a blockbusters nos cinemas e seriados famosos. Por exemplo, nunca tinha visto uma oferta tão escancarada das obras de Stephen King, justamente depois do lançamento de uma das melhores adaptações de seu conto para a telona. Passei a considerar o filme It 2 uma obra quase messiânica, pois fez um verdadeiro milagre (re)colocando o consagrado autor da literatura de terror de volta nas mesas destacadas de muitas editoras. E tinha gente na fila do caixa comprando o tijolo de King por até setenta reais.

Por outro lado, o leitor mais específico sai perdendo. Centenas e centenas de títulos espalhados sem muita ordem sobre mesas e prateleiras apinhadas de pessoas. Dá uma sensação de claustrofobia agoniante pela qual nem todo mundo está bem preparado para passar. Talvez seja um efeito do começo da Bienal, quando os primeiros visitantes querem aproveitar o que tem disponível. De verdade, não sei. Mas nas minhas buscas, senti uma profunda falta de ordem que pudesse me orientar para um porto seguro feito de livros de divulgação científica, em praticamente todos os stands.

Em uma curta jornada de quase três horas (a oferta é realmente muito grande, e não dá pra passar as vista de forma mais meticulosa em cada uma das editoras neste espaço de tempo), senti profundamente a falta de autores de popularização científica. Para não dizer que não encontrei nada, consegui enxergar na editora Imperatriz livros de Sagan, Dawkins, Hawkins, DeGrasse Tyson, Pirula e alguns menos conhecidos. Mesmo assim, as promoções não estavam tão atraentes (variavam entre 10% a 20% de um preço já razoavelmente alto), e não me senti inclinado a investir. De resto, minha busca foi frustrante.

Sabe, não vou culpar ninguém por causa disso. Eu entendo a necessidade das editoras de promover o máximo possível os livros com maior saída. E também entendo a falta generalizada de interesse que o público tem por livros sobre ciência. Sequer os preços ajudam. Livros bons de ciência não são baratos, e é preciso uma boa dose de incentivo pessoal e vontade para investir nesta literatura. Além disso, a grande maioria não tem o hábito de ler, e desta forma a literatura científica não goza do prestígio de ser colocada no panteão dos "mais vendidos". Apesar disto, a Bienal é um evento gigantesco, que dura uma semana inteira repleta de pessoas. E isso com certeza é positivo.

Resumindo, a bienal é um bom pontapé inicial para instigar o interesse por livros e pela leitura. É igualmente boa para um leitor voraz que tem um apetite respeitável para uma variedade grande de literatura, e quer garimpar promoções. Para leitores mais específicos, recomendo pedir as obras pela internet aproveitando algum cupom de frete grátis.

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