Confesso que toda vez que eu vejo a palavra “revolucionária
teoria” fico com os dois pés atrás.
Demorei muito, muito mesmo, para compreender o básico sobre
evolução. Li artigos científicos, capítulos de livros e autores renomados, para
conseguir integrar boa parte das nuances que norteiam o tão injustamente
plagiado conceito de evolução. Então quando alguém diz que tem uma “nova teoria”
ou “teoria revolucionária”, meu principal impulso é que o autor sinceramente
não entendeu o que é evolução, e está agora tentando tornar pública suas próprias
ideias sobre o assunto. E dessa literatura, quero distância. Mesmo hesitante, tomei
o livro nas mãos e fui folhear.
Minha boa surpresa foi que o livro é ilustrado com figuras
bem reconhecidas de quem conhece biologia. Anatomia, paleontologia,
embriologia. É difícil um livro contendo barbaridades biológicas recorrer a
essas figuras, que muitos podem considerar pouco chamativas. Depois fui no
autor (deveria ter feito isso antes). Neil Shubin é professor de anatomia e
paleontólogo por formação. Fiquei surpreso ao saber que ele é um dos
descobridores do fóssil Tiktaalik, uma espécie de figura chave no processo de transição
do ambiente aquático para o terrestre. Folheei uma e outra página, li duas ou
três, em ordem aleatória (faço isso para ver o estilo do escritor) e decidi
investir.
A paleontologia simplesmente reina o tempo todo. Confesso
que não me foi agradável por boas páginas, apesar do estilo equilibrado de
balancear fatos e descrições. Sítios arqueológicos, fósseis em laboratório, troca
de ideias e apoio de outros cientistas tornam a narrativa quase romanceada. É
como se fosse um roteiro de suas próprias pesquisas. E intercalado com noções
básicas sobre genes, hereditariedade, e processo de formação das estruturas anatômicas.
Esta última, por exemplo, é muito atraente. Se quiser saber como um gene pode
ligar ou desligar, rearrumar ou deformar um apêndice, como uma asa ou uma
nadadeira, esse livro lhe dará uma boa ideia disso. O achei útil inclusive para
geneticistas em formação. Às vezes, uma visão simplificada do todo pode ser uma
alavanca muito útil para que especialistas tenham uma compreensão global do que
estudam.
Na segunda parte da obra, a coisa muda de figura (para
melhor). Ele nos apresenta um tutorial de como se construir um corpo, de forma
bem superficial, mas envolvida numa simplicidade incrível. Passeia delicadamente
entre genes, expressão gênica e embriologia. Com a forte base paleontológica e
buscando muito em anatomia comparada, Shubin destrincha a biologia do
desenvolvimento dos sentidos. Especial atenção aqui para a visão e audição, e seus
respectivos órgãos em peixes e répteis. Talvez o que torne sua leitura mais
complicada é o recorrente uso de nomes de genes, que são bastante pouco intuitivos
para este tipo de narrativa, intercalado com informes históricos tão breves que
poderiam ter ficado de fora sem prejuízo algum para a obra. No final, o autor
aponta elementos de nosso cotidiano, como hérnia e doenças cardíacas, às
modificações de estruturas muito mais primitivas encontradas em outros animais,
como resultado do processo adaptativo.
Enfim, o “revolucionária teoria” na verdade foi um alarme
falso. É um livro agradável publicado pela Elsevier, curto mais bem
informativo. Se concentra demasiadamente em paleontologia e aborda de forma relativamente
confortável (poderia ter sido até mais) a embriologia e a origem da formação de
um corpo animal. Não é um livro que marca e que você recorra rotineiramente para
ele, mas vale a pena a leitura.
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