sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A História de Quando Éramos Peixes – uma revolucionária teoria sobre a origem do corpo humano



Confesso que toda vez que eu vejo a palavra “revolucionária teoria” fico com os dois pés atrás.
Demorei muito, muito mesmo, para compreender o básico sobre evolução. Li artigos científicos, capítulos de livros e autores renomados, para conseguir integrar boa parte das nuances que norteiam o tão injustamente plagiado conceito de evolução. Então quando alguém diz que tem uma “nova teoria” ou “teoria revolucionária”, meu principal impulso é que o autor sinceramente não entendeu o que é evolução, e está agora tentando tornar pública suas próprias ideias sobre o assunto. E dessa literatura, quero distância. Mesmo hesitante, tomei o livro nas mãos e fui folhear.

Minha boa surpresa foi que o livro é ilustrado com figuras bem reconhecidas de quem conhece biologia. Anatomia, paleontologia, embriologia. É difícil um livro contendo barbaridades biológicas recorrer a essas figuras, que muitos podem considerar pouco chamativas. Depois fui no autor (deveria ter feito isso antes). Neil Shubin é professor de anatomia e paleontólogo por formação. Fiquei surpreso ao saber que ele é um dos descobridores do fóssil Tiktaalik, uma espécie de figura chave no processo de transição do ambiente aquático para o terrestre. Folheei uma e outra página, li duas ou três, em ordem aleatória (faço isso para ver o estilo do escritor) e decidi investir.

A paleontologia simplesmente reina o tempo todo. Confesso que não me foi agradável por boas páginas, apesar do estilo equilibrado de balancear fatos e descrições. Sítios arqueológicos, fósseis em laboratório, troca de ideias e apoio de outros cientistas tornam a narrativa quase romanceada. É como se fosse um roteiro de suas próprias pesquisas. E intercalado com noções básicas sobre genes, hereditariedade, e processo de formação das estruturas anatômicas. Esta última, por exemplo, é muito atraente. Se quiser saber como um gene pode ligar ou desligar, rearrumar ou deformar um apêndice, como uma asa ou uma nadadeira, esse livro lhe dará uma boa ideia disso. O achei útil inclusive para geneticistas em formação. Às vezes, uma visão simplificada do todo pode ser uma alavanca muito útil para que especialistas tenham uma compreensão global do que estudam.

Na segunda parte da obra, a coisa muda de figura (para melhor). Ele nos apresenta um tutorial de como se construir um corpo, de forma bem superficial, mas envolvida numa simplicidade incrível. Passeia delicadamente entre genes, expressão gênica e embriologia. Com a forte base paleontológica e buscando muito em anatomia comparada, Shubin destrincha a biologia do desenvolvimento dos sentidos. Especial atenção aqui para a visão e audição, e seus respectivos órgãos em peixes e répteis. Talvez o que torne sua leitura mais complicada é o recorrente uso de nomes de genes, que são bastante pouco intuitivos para este tipo de narrativa, intercalado com informes históricos tão breves que poderiam ter ficado de fora sem prejuízo algum para a obra. No final, o autor aponta elementos de nosso cotidiano, como hérnia e doenças cardíacas, às modificações de estruturas muito mais primitivas encontradas em outros animais, como resultado do processo adaptativo.

Enfim, o “revolucionária teoria” na verdade foi um alarme falso. É um livro agradável publicado pela Elsevier, curto mais bem informativo. Se concentra demasiadamente em paleontologia e aborda de forma relativamente confortável (poderia ter sido até mais) a embriologia e a origem da formação de um corpo animal. Não é um livro que marca e que você recorra rotineiramente para ele, mas vale a pena a leitura.

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