segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Infinitas formas de grande beleza – como a evolução forjou a grande quantidade de criaturas que habitam o nosso planeta



Você já parou pra pensar como todos os organismos ficam com suas formas? Confesso que não é um tipo de pergunta corriqueira que costumamos nos fazer. Especialmente se você pensar nisso de maneira mecanicista, sem optar por algum agente sobrenatural que decida por capricho colocar uma asa a mais aqui ou ali. Sabemos de forma geral, que a estrutura de um organismo vai se formando, e visualizamos isso no processo embrionário. Certo, concordamos com isso. Mas por que justamente o braço fica naquela exata posição? Ela não poderia simplesmente se desenvolver depois das pernas, ou na altura da barriga? Quem dá as ordens para que as coisas sejam do jeito que é? Este é justamente o livro que você deve procurar, para começar a entender esse magnífico mecanismo.

O autor é um geneticista americano, Sean B. Carroll. Difícil pensar em um profissional melhor para explicar como um corpo, seja humano ou animal, é construído com base em ordens químicas dadas por genes, que são ligados e desligados seguindo uma complexa e ainda não muito bem compreendida estrutura organizacional. Essa se torna a essência do livro.

Reconheço que o leitor que não está familiarizado com conceitos básicos de biologia vai ter uma certa dificuldade de acompanhar o raciocínio do autor, e sua avalanche de dados. É uma obra bem detalhada, ricamente ilustrada com figuras preto e branca e coloridas. Carroll passeia desde embriões humanos, animais, expressão gênica e paleontologia, para construir sua narrativa desafiadora de tentar explicar as ordens biológicas por trás da diversidade da vida. Leitura e silenciamento de genes, proteínas, comunicação entre as células e até mesmo aberrações e descobertas inesperadas são fartamente explorados no seu esforço de fazer entender o complexo mecanismo de construção biológica. Não é um assunto fácil, e ele sabe disso.

Ele recorre a explicações desde como surgem as listras em uma zebra, até as imagens surreais sobre as asas das borboletas. E faz essas escolhas à dedo. O livro é munido com uma certeira bibliografia especializada (artigos científicos publicados em periódicos) que fornece a base de todos os seus exemplos. Ora e meia, ele aparece com uma história aqui e ali, para quebrar a tensão do que seria uma narrativa pesadamente científica.

O autor se esforça em escrever da maneira menos pesada possível, o que é um verdadeiro desafio, especialmente quando ele se vê obrigado a trabalhar com muitas palavras específicas da área. Mesmo com sua vasta experiência, Carroll não acerta sempre em manter a narrativa com vigor, e o que pode tornar o texto cansativo em alguns momentos. Não é todo leitor curioso por ciência que vai ter paciência para se aventurar em mais de duas centenas de páginas sobre a construção dos organismos. É um terreno árido, com muitas perguntas sem respostas, e ele mesmo reconhece isso. Mas para quem quer dar os primeiros passos neste intrigante enigma da vida, esta é a obra certa.

Editada pela Zahar, as folhas são brancas, mas não brilham muito, com uma tipografia fina, mas com um espaçamento ligeiramente estreito. Em algumas páginas, percebe-se as letras um pouco mais claras, mas não chega a ser um desconforto. O livro é bem trabalhado em seus parágrafos, com poucas páginas com texto continuado. A grande quantidade de ilustrações auxilia a dar um ar menos pesado à obra, lhe conferindo inclusive uma certa graça.

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