Você já parou pra
pensar como todos os organismos ficam com suas formas? Confesso que não é um
tipo de pergunta corriqueira que costumamos nos fazer. Especialmente se você
pensar nisso de maneira mecanicista, sem optar por algum agente sobrenatural
que decida por capricho colocar uma asa a mais aqui ou ali. Sabemos de forma
geral, que a estrutura de um organismo vai se formando, e visualizamos isso no processo
embrionário. Certo, concordamos com isso. Mas por que justamente o braço fica
naquela exata posição? Ela não poderia simplesmente se desenvolver depois das
pernas, ou na altura da barriga? Quem dá as ordens para que as coisas sejam do
jeito que é? Este é justamente o livro que você deve procurar, para começar a
entender esse magnífico mecanismo.
O autor é um geneticista
americano, Sean B. Carroll. Difícil pensar em um profissional melhor para
explicar como um corpo, seja humano ou animal, é construído com base em ordens
químicas dadas por genes, que são ligados e desligados seguindo uma complexa e
ainda não muito bem compreendida estrutura organizacional. Essa se torna a
essência do livro.
Reconheço que o
leitor que não está familiarizado com conceitos básicos de biologia vai ter uma
certa dificuldade de acompanhar o raciocínio do autor, e sua avalanche de
dados. É uma obra bem detalhada, ricamente ilustrada com figuras preto e branca
e coloridas. Carroll passeia desde embriões humanos, animais, expressão gênica
e paleontologia, para construir sua narrativa desafiadora de tentar explicar as
ordens biológicas por trás da diversidade da vida. Leitura e silenciamento de
genes, proteínas, comunicação entre as células e até mesmo aberrações e
descobertas inesperadas são fartamente explorados no seu esforço de fazer
entender o complexo mecanismo de construção biológica. Não é um assunto fácil,
e ele sabe disso.
Ele recorre a explicações
desde como surgem as listras em uma zebra, até as imagens surreais sobre as asas
das borboletas. E faz essas escolhas à dedo. O livro é munido com uma certeira bibliografia
especializada (artigos científicos publicados em periódicos) que fornece a base
de todos os seus exemplos. Ora e meia, ele aparece com uma história aqui e ali,
para quebrar a tensão do que seria uma narrativa pesadamente científica.
O autor se esforça
em escrever da maneira menos pesada possível, o que é um verdadeiro desafio,
especialmente quando ele se vê obrigado a trabalhar com muitas palavras
específicas da área. Mesmo com sua vasta experiência, Carroll não acerta sempre
em manter a narrativa com vigor, e o que pode tornar o texto cansativo em
alguns momentos. Não é todo leitor curioso por ciência que vai ter paciência para
se aventurar em mais de duas centenas de páginas sobre a construção dos organismos.
É um terreno árido, com muitas perguntas sem respostas, e ele mesmo reconhece
isso. Mas para quem quer dar os primeiros passos neste intrigante enigma da
vida, esta é a obra certa.
Editada pela Zahar,
as folhas são brancas, mas não brilham muito, com uma tipografia fina, mas com
um espaçamento ligeiramente estreito. Em algumas páginas, percebe-se as letras
um pouco mais claras, mas não chega a ser um desconforto. O livro é bem
trabalhado em seus parágrafos, com poucas páginas com texto continuado. A grande
quantidade de ilustrações auxilia a dar um ar menos pesado à obra, lhe
conferindo inclusive uma certa graça.
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