O que posso dizer do livro é que ele no mínimo nos presenteia
com uma visão bem inclusiva de nossas emoções mais profundas. É um livro que
nos aproxima, na melhor e na pior das maneiras, das outras espécies animais.
Frans de Waal é um biólogo e etologista, especializado em
primatas. Foi no decorrer de sua experiência com chimpanzés, usando sagacidade e
perspicácia científica como poucos, elaborou experimentos que resolveram boas e
intrigantes perguntas. E foi isso que lhe deu a munição que faltava para
escrever essa obra.
O livro entrega o que promete. E o leitor não se arrepende. Ele
pretende mostrar, embasado em uma respeitável quantidade de artigos científicos
que estão nas referências, e um bocado de biologia, que nossos sentimentos de altruísmo,
compaixão, justiça e empatia, não são meros produtos da evolução da sociedade humana.
Ela tem raízes muito mais profundas, muito mais biológicas. E é este ponto um
dos trunfos da obra: escavar as bases da nossa sociedade, escondidas nos genes
de outros organismos tão socialmente sofisticados quanto nós mesmos.
A obra começa com uma visão rápida sobre registros de ações
de animais que beiram ao emocional, como medo, apreensão, cooperação. E as
reações humanas diante destes sentimentos. Destaco um parêntese aqui, pois bem
sabemos que tanto a crueldade como a insensibilidade sobre o bem estar animal
vem de longa data, e muito se deve à ideia medieval de que suas reações à afabilidade
e agressões humanas foram consideradas processos mecânicos, onde conceitos como
dor e sofrimento não cabiam. De Waal, por outro lado, destaca alguns registros
onde as pessoas emocionalmente se sentem próximas a certos indivíduos não
humanos.
Depois ele entra com uma boa dose de conceitos evolutivos
darwinianos, para localizar o leitor nas bases do mecanismo de hereditariedade,
comuns em todas as espécies. Neste ponto, é clara a mensagem: “se somos assim
por algum caminho, eles também devem ser”.
Boa parte do corpo do texto é preenchida com experimentos em
animais que mostram como eles são incrivelmente parecidos conosco. Eles são descritos
o suficientemente bem para fazer o leitor compreender o propósito da pesquisa,
sem as pesadas partes chatas atreladas a uma pesquisa científica. E as compara,
em muitas vezes, com as reações infantis de crianças, notadamente semelhantes. Exemplos
de aparente reconhecimento e importância com o que outro indivíduo está sentindo,
cooperação e conceitos básicos de justiça – receber um valor justo por algum
trabalho executado – são descritos no livro. Elefantes, macacos-prego, chimpanzés
e golfinhos reinam nas linhas traçadas pelo autor.
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