E aí? Você sabe diferenciar ciência de pseudociência? Se
ainda não, é uma boa oportunidade de livro que vai lhe dar uma amostra das
principais diferenças de uma e de outra.
O livro do psicólogo Ronaldo Pilati é um pouco pretensioso,
em relação ao que promete. Mas isso não o desabona, e tão pouco o torna
dispensável. Curto e leve, a obra merece seu lugar em um mundo onde a informação pode ser transmitida de forma mais direta e objetiva. Se você tem uma curiosidade ligeira sobre o que é ciência e
pseudociência, gostaria de ler um pouco sobre como pensamos e de que forma
nossa mente está organizada para aceitar de primeira informações pseudocientíficas,
eu recomento esta obra. Ela não é definitiva nem profunda, e aposto que o autor
não quis realmente que fosse isso. Ele foi muito razoável em construir uma narrativa
que pudesse ser facilmente acessível e direta sobre o assunto que ele aborda. E
tem sucesso nesta empreitada.
A obra é dividida em capítulos bem pensados, e cada uma
mereceria, por si só, um volume à parte, de tão abrangente que é. O autor
merece crédito por conseguir reduzir bastante sua escrita para apresentar
somente os elementos básicos essenciais para criar o livro. Primeiramente, ele
emplaca sobre a natureza e base do que nos faz crer, e a partir daí sobre a
natureza do conhecimento, incluindo então a ciência não como corpo de
conhecimento, mas processo de construção de conhecimento vinculado a um método.
Ponto positivo para o autor. Ele consegue abordar sobre o que é ciência,
aludindo a filósofos como Bunge e Popper, de forma bastante sintética, o que
seria um desafio e tanto para muitos outros escritores.
Depois, ele parte para a psicologia da crença, como nós
humanos funcionamos em relação a isso. Nossos processos falhos de apreensão de
informação, e como somos tão facilmente tapeados pelo universo de dados que
existem no mundo. O problema não são as fontes, mas sim como nosso cérebro
interpreta, e como ele decide escolher quais as mais confiáveis. Neste ponto,
Pilati nos apresenta o fascínio com que as pseudociências conseguem seduzir a
muitos, e de certa forma nos apresenta as ferramentas para reconhecer essas
propagandas enganosas. É um livro que lhe arma contra charlatanice.
Seguindo, destaca como as crenças pseudocientíficas começam
a adentrar em ambientes onde por definição elas não poderiam ter espaço: as
universidades. E isso é um excelente alerta que o autor nos fornece. Novamente,
ele escancara o perigo de um discurso floreado, eloquente e sedutor, cheio de
mentiras e inverdades, que podem dominar plateias inteiras que não estiverem
atinadas com as técnicas de reconhecimento de falácias. É uma advertência e
tanto, especialmente para jovens cientistas.
A conclusão do livro é uma reflexão sobre o que é ciência e
por que ela é tão importante para que todos (isso mesmo, não só cientistas e
pesquisadores, mas TODOS) devam pelo menos ter noções básicas de como funciona o
método científico. Sua importância para nossa sociedade altamente dependente de
tecnologia, e por mais que o método tenha lá suas lacunas, ele ainda é o melhor
caminho para se entender como o mundo funciona.
Pilati bebe nas melhores fontes de divulgação científica
disponíveis em português. Consultou Dawkins, Harris, Chalmers, Damásio, Mlodinow,
Pinker, Shermer, Sagan, dentre outros (alguns destes inclusive vocês verão
resenhados aqui posteriormente). A editora Contexto produziu um livro de
tamanho confortável e leve, com uma tipografia ajustada para um texto
majoritariamente contínuo. É uma obra que eu recomendo para quem quiser começar (isso mesmo, começar) a entender as diferenças entre ciência e o que se alega ser ciência. Depois,
pode consultar a bibliografia citada, para encontrar autores que abordam o
assunto de forma mais profunda.
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