sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O Maior Espetáculo da Terra - as evidências da evolução



Uma obra como poucas. Um estilo fluido e agradável de escrita, repleta de informações pontuais e descrições empolgantes, seja de eventos, seja de animais, seja de fenômenos. Essa é uma característica de Richard Dawkins, o biólogo que se notabilizou pelo seu famoso volume publicado na década de setenta, O Gene Egoísta. Talvez seja um dos mais populares divulgadores científicos dos tempos recentes. Dono de uma oratória elegante, que ora se deixa levar pelo seu natural entusiasmo por ciência, ora é alimentada por seu ácido e mordaz ativismo ateísta, Dawkins merece seu reconhecimento por demonstrar um talento incomum em escrever para o público, especialmente quando se trata de biologia e evolução.

Agraciado com uma retórica e discurso muito agradáveis, as folhas literalmente voam quando você começa a leitura. Quando menos esperar, você já está terminando o livro de quatrocentas páginas que mais parecia uma revistinha. O processo evolutivo, compreendido com muita profundidade, é seu terreno mais confortável e predileto. Sua defesa apaixonada e admiração pela ciência é indisfarçável e recheia páginas e mais páginas do volume. Mas como um bom maestro, ele conduz os fatos e argumentações em um ritmo seja acelerado, seja mais contemplativo, regendo uma orquestra onde ele conhece cada um dos instrumentos e seus respectivos músicos.

Como o próprio título diz, sua obra pretende apresentar as evidências da evolução. Mesclando curiosidades, uma abundante narrativa histórica e casos escolhidos à dedo, Dawkins conduz o leitor no melhor que a ciência já descobriu e conseguiu descortinar sobre os mecanismos da evolução. Impressionante como ele ainda consegue surpreender, já tendo explorado o tema em pelo menos uma dezena de obras de divulgação científica sobre evolução dos quais é autor. A caneta de Dawkins parece ser simplesmente incansável. E isso é um enorme benefício para os interessados no autor e na sua obra.

O livro mergulha em diferentes exemplos da evolução e da construção dos seres. Explicando desde o processo de datação do carbono, até os detalhes por trás da movimentação e multiplicação das células durante o crescimento embrionário, seguindo ordens específicas dadas pela expressão sequenciada de genes (e aqui tratamos de uma descrição simplesmente fantástica de um processo bastante complexo, que abre-se aos olhos do leitor), a obra não deixa a desejar. E Dawkins é muito bem afortunado com seus exemplos. Seu insight de comparar os surgimentos das dobras das camadas celulares nos embriões a um processo similar à arte oriental de origami é uma tacada de mestre. Pequenas ilustrações, seja de gráficos muito simples a desenhos de organismos, dão um toque todo especial à obra.

Se já fosse só por isso, o livro já estaria pronto. Mas como um ativista, Dawkins não poderia encerrar apenas nas evidências. Ele precisa acrescentar também alguma discussão e contra-argumentações sobre a teoria não científica do design inteligente. E munido deste ímpeto, o autor discorre fartamente sobre dezenas de características biológicas que, caso tivessem sido planejadas por uma mente inteligente, certamente demonstraria uma falta de planejamento evidente. Um dos exemplos marcantes do livro que nunca saiu de minha mente foi do nervo vago da girafa. Vale a pena cada um dos casos.

Publicado pela Companhia das Lestras, a obra ainda é enriquecida com encartes coloridos belíssimos, com fotos e figuras de primeira qualidade. Papel amarelado com tipografia elegante, que auxilia muito para leitura. A obra tem dimensões discretamente maiores que o comum, mas provavelmente ficou assim para compensar o que poderia ter sido um livro mais encorpado.

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